Era domingo de sol. Parei a meio da tarde numa aldeia que outrora conheci.
Lembro-me que, então, no terreiro central dessa aldeia muitas crianças corriam e brincavam. Era de ensurdecer os gritos da sua animação. As moças, já espigadotas, namoriscavam sentadas no muro da escola, com o olhar atento das mães e a curiosidades das outras mulheres. Os rapazes jogavam à bola no recreio da mesma escola, que confinava com o terreiro. Os homens, com o olhar atento dos mais idosos, jogavam às cartas num espaço improvisado da mercearia e refrescavam a tensão com umas tigelinhas de vinho verde da região.
Comportamentos simples na pacatez daquela aldeia.
Foi assim que eu a tinha visto e conhecido. Era esta imagem que eu guardava e que me levou a voltar lá.
Não foi assim que agora a encontrei. Doeu-me o silêncio!
Não vi crianças a brincar, moças entretidas nos muros, bolas lançadas contra as paredes pelos rapazes, mulheres a fervilharem de desdém. Vi apenas velhos, cada vez mais velhos, na mesma mercearia, mas agora a beberem refrigerantes, por conselho da fragilidade da idade e da saúde. Chocou-me ver aquela aldeia tão só!
A ausência de alternativas bateu teu forte demais nos filhos daquela terra. Os prados já não os prendiam. Os pinhais começaram a sombrear demais os seus anseios. A paisagem circundante, imensa de beleza, já dava muito pouco a quem mais queria e precisava. As razões eram demais para partirem...
Fiquei sozinho com aquele silêncio.
Fui olhando as pedras que permaneciam quietas na decoração sublime daquele pedaço de mundo só.
Quis convencer que, pelos menos, as pedras e paredes irão resistir...
João Luís Dias