Este é o meu desejo
O de alguém um dia terá fim
Porque a vida não vive sempre
Nem sempre traz alegria assim
Por ser efémero ensejo.
Deixo-vos tudo o que tenho
A cada um um parágrafo curtinho
Curto, mas exageradamente rico
Para saborear com um copo de vinho
Do bom, que se bebe com empenho.
Deixo-vos a minha escrita,
Aquela velha e farrusca caneta
De cor estranha e aparo meio torto
Que, como gosto, bebe tinta preta
E que no poetar é perita.
Deixo-vos um caloroso abraço
Daqueles que custam a largar
Bem atado para não ser esquecido,
Mas com a promessa de voltar
E mostrar o que de melhor faço.
Deixo-vos também água na boca,
Uns alegres e outros nem tanto,
Um sorriso já usado mas sincero,
As vossas palavras que canto
E toda esta poesia, tão pouca.
Deixo-vos um cantinho da minha saudade,
O olhar maroto para as meninas,
Belas e garbosas escritoras
E para aquelas mentes mais finas
Deixo também uma lágrima de verdade.
Deixo-vos este longo testamento,
Sei que é pobre em tesouros
E lerdo em títulos ou realezas,
Mas para mim são taças e louros
Que sempre escrevi com sentimento.
Deixo-vos atirar pedras e tudo mais
Sarar estas minhas feridas
Ler e reler o vosso que é meu
O que liga estas nossas vidas
Até aos seus momentos finais.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma