_ Porque estás aos saltos em cima do banco? Não vês que parece mal! Sai já daí.
Maria sempre fora educada com rigidez e, apesar das chamadas da atenção dos seus familiares, era assim que gostava de educar também os seus filhos. Nunca entendia nenhuma brincadeira, raramente os deixava ser crianças nem tão pouco acreditava nesse conceito. Ao ver Simão assim aos pulos em cima do banco de jardim não pode conter a sua fúria, envergonhada, deixou seu filho embaraçado agarrado a nada, sentado apenas, de pernas cruzadas, mão esquerda segurando o queixo e a face lavada em lágrimas.
_ Então Simão? O que se passa?
Henrique, um tio que Simão gostaria de ter tido, o único capaz de o entender, às vezes aparecia quando não era bem vindo. Amigo imaginário? Talvez! Para Simão era seu único confidente, o seu conselheiro.
_ A mãe não entende aquilo que me pediste para fazer...
As lágrimas corriam-lhe rosto abaixo, umas atrás das outras, deliniando o caminho à frente das bochechas cabisbaixas, a boca senti o sal das lágrimas e um gosto amargo a cobrir os espaços em seu redor, o coração batia acelerado, às vezes descompassado mas nunca silencioso. Assim era Simão, um menino habituado às emoções, passional, cândido, pequena pedra no meio de um coral mas a pedra mais brilhante, a mais especial.
_ Há muitas coisas que deves entender Simão. Se a tua mãe não acredita no que te disse não tem mal, um dia há-de acreditar e então aí irás sorrir ao vê-la saltar ao teu lado em cima do banco de jardim.
Henrique tinha sempre as palavras certas para proferir mesmo quando o caos e a incerteza teimavam em habitar aquele coração pequenino.
_ Achas que ela um dia também vai conseguir?
_ De certeza que vai! Porque não? Achas que ela não será capaz?
_ Acho que ela não quer!
_ Não podemos obrigar ninguém a fazer aquilo que não quer. Quando ela quiser ela irá conseguir. Basta que acredite!
_ Henrique!?
_ Sim Simão!
_ Tu conseguiste logo na primeira tentativa?
_ Não! Voar é complicado até quando se é crianças, ainda com o coração puro e limpo de preocupações.
_ Como voam os anjos então?
_ Já te havia dito antes. Eles conseguem voar porque não se preocupam! Tu não te deves preocupar com o facto de voares ou não, um dia saltas e as tuas asas de anjo se elevarão para te levar onde tu quiseres.
_ Sabes onde eu queria?
_ Não. Não sei!
_ Queria fazer um piquenique com a mãe em cima de uma nuvem.
_ Quem sabe um dia não a levas.
_ Sim, quem sabe!
A boca de Simão não conseguiu disfarçar o suspiro e o sorriso que o sucedeu. No seu pensamento a imagem de um piquenique perfeito, com os bolos caseiros da mãe, com o sumo natural de laranja, com o baralho de cartas e o papagaio que tanto gostava de lançar ao vento.
Saiu a correr, debaixo do braço o papagaio, à sua frente a rede do parque, lá em baixo, a mais de 25 metros o rio. Simão subiu a rede sem medo, destemido mirou o rio com a bravura de um super-herói, Henrique voava dali para ali dando instruções de voo, lá trás, debruçada sobre a toalha de piquenique Maria preparava as sandes de geleia, as preferidas de Simão.
_ Mãe! Mãe!
_ Que foi Simão?
_ Olha como eu sei voar!
Maria correu e correu e correu e à sua frente o verde da tenra erva parecia infinito, alcançando a rede viu o seu filho voar os 25 metros com o papagaio torneando ao vento, a água recebeu o corpo com aplausos salpicados, os olhos de Maria encheram-se de sal, de água, a face empalideceu, o corpo decaiu.
. façam de conta que eu não estive cá .