Quem disse essa frase subestimou com certeza uma boa dor de dente. Nada na vida te faz ter mais consciência da existência do que a dor. Claro, não foi Descartes que originalmente a criou... ele ouviu algo semelhante em muitas das suas andanças. Assim como também, não foram os gregos que inventaram a lógica. Eles a sistematizaram de uma forma diferente, apenas isso. Não se aprende nada sozinho, apenas aperfeiçoamos as coisas.
O autor da frase também não conhecia a síndrome da despersonalização. Aquela em que a sua consciência duvida de sua própria existência, e acha que todos ao redor dela, inclusive ela mesma, é um mero produto da ilusão, do sonho, ou mesmo, do embuste. A pessoa pensa... mas não sabe se de fato existe. A pessoa se olha no espelho e não se reconhece. Sente-se um observador externo da sua vida e tem apatia por tudo, e mais nenhum sentimento, que não seja o de angustia. Aqui de novo, a dor, em muitas de suas configurações.
Os monges, e os meditadores, buscam essa sensação, só que em um outro contexto. A intenção deles é a eliminação do ego, e a despersonalização, ou desrealização, é uma forma excelente de eliminá-lo. O que virá depois é a reação que terão frente a isso.
Para um meditador, que buscou a vida inteira por essa sensação, será uma liberdade tremenda. Vez que não será mais o ego que lhe ditará o que fazer. Será indiferente a tudo, aos sentimentos, aos valores da sociedade, e até mesmo, à dor.
Para uma pessoa normal, que sofra da síndrome, será um pesadelo. Pois essa pessoa nunca cogitou abandonar seu ego. Ver o mundo de fora de seu corpo para ela é como viver num filme de terror, ou estar sofrendo uma possessão. Pois o mundo para ela não será real. Nada que antes tinha valor terá agora. Essa pessoa não percebeu que está livre.
Geralmente, a pessoa que sofre de despersonalização busca algum tipo de auto-mutilação, procurando inflingir-lhe dor, para se auto afirmar na realidade. Só a dor pode dizer a ela que ela está viva!
Isso diz muito sobre a humanidade. Pense nisso...
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