Vieste como maré calma e quente bater na minha praia
não como pássaro ferido procurando abrigo
trouxeste a esperança de Verão quente
fazendo esquecer-me, por instantes,
o voo de uma folha que caiu lentamente
no meu peito, agarrando-se ao meu coração
Com essa jovialidade e inquietude
trouxeste os teus braços, ternos, em que me abrigo,
esquecendo essa permanência da saudade que vive em mim
abrindo, com o teu sorriso, a porta do teu coração
finalmente assumindo a maré em que navegas
em gotículas salgadas que caem nos meus olhos
Vieste tu, assim, acordar as minhas ondas
antes lentas e frias de passado sofrido
aquecendo o meu corpo e a minha alma nessa tua força do sul
transferindo o teu olhar para o olhar que sempre lembrei
Vieste tu agora, brisa quente do verde planalto
trazendo o amarelo da lua cheia,
música ritmada, canto de sereia,
voz que me acalma a dor, toque que me serena
e me revigora os sentidos
Sabendo que vens do mesmo ramo da árvore
de onde guardei uma folha caída,
com a mesma seiva no sangue,
regozijo-me em teres chegado assim
solta, alegre, destemida, livre
E fica nos teus olhos esse salgado da saudade
que jorrei durante anos, pensando que estás a roubar pérolas
de quem me olhou assim, me amou e partiu
sendo as contas sido enfiadas por ti no colar que guardo
sabendo que essa maré já passou
Vieste, lentamente me banhaste,
e a minha vida conquistaste
matando essa morte em que vivi
sabendo que depois dessa folha que cuidei
nasceste tu, flor da Primavera,
que em mim ficará segura e protegerei
Serás pássaro colorido,
melodia do meu dia,
lua da minha noite,
sol da minha vida,
alegria vivida
verão florido
"De lá do céu"
não haverá chuva,
antes o azul claro
ou a estrela que nos protegeu
para voarmos sobre esse mar
Delfim Peixoto © ®