Sempre que penso pensar em mim
Construo uma casa grande para lá morar
Cheia de coisas belas e de móveis castanhos envernizados
Que falta me fazem quando me penso pensamento
No fim, quando lhe ponho as cortinas nas janelas
Uma carpete com motivos no chão da sala
Quando torno a casa confortável e acolhedora
Não me vem vontade de morar nela.
Eu, que de real sou apenas hipótese
Antecâmara perceptiva e abstracta
Onde me gero esboço robusto, pau para qualquer obra pensada
E se a vertente pender à duvida
- Viverei o que vivo ou vivo o que irei viver?
Estudo-me, analiso-me e antecipo o momento
Mas o pensamento cansa-me por já o pensar cansado
Cansado da casa e dos acabamentos cuidados
Cansado da importância dada aos pormenores
Cansado de lhe dar liberdade, aprisionando-me pensamento
Então, a casa que antes era grande, torna-se pequena
E a carpete com motivo, deixa de ter motivo.
O pensamento acabado e final é cansaço e prisão
É a casa onde me ponho à janela a ver-me aqui
E aborrecido, perco a vontade de morar nela.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.