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O grande caderno azul

 
XLVII

Minha cunhada acordou com amacaca, reclamando contra tudo e contra todos.os seus bichos cagam e urinam a noite toda, bagunçam a a casa. Choveu forte a madrugada toda. A garganta continua irritada. Queria começar a grade de Dona Francisca.

Dans l'atelier de la vie

Tempo fechado.Pauvreté. Sara salvou a pátria dando vinte reais para comprar carne. Biné viajou para trabalhar como administrador de um obra do genro Jorge. Aleluia!Aleluia! - ganhei dez reais para soldar uns chumbadores num basculante para seu Sardinha.pagou-me adiantado.Fiquei contente e o meu universo também ficou contente com a noticia de uma comitiva alemã de cultura na ilha para promover o intercambio cultural. esse é o ano da Alemanha no Brasil. Empolguei-me e imediatamente comecei a enfeitar os meus pensamentos como sempre e estou com uma vontade de participar.levando aquele pequeno livreto de Poemas do Desterro em alemão.Puro sonho, ai vem aquela velha euforia e o resto nós já sabemos no que termino... em nada. Trouxe "As minas do rei Salomão" de Ride Haggard com tradução do mestre português Eça de Queiroz.
10 e pouco - Aleluia!Aleluia! - soldei as peças na grade de Seu Sardinha. Seu Rubens trouxe-me um carro de mão para soldar um dos braços e pagou-me adiantado. Comprei um quarto de eletrodos. Amigos, confesso que não estou muito legal de saúde. Canso-me com facilidade,quando estou de cócoras e levanto-me bruscamente sinto uma leve tontura e a vista fica escura.Será que estou tuberculoso ou outra doença qualquer? E uma fraqueza. Como diz a minha cunhada estou seriamente doente e para complicar essa garganta,o pigarro constante e a tosse seca. Quem me dera morrer logo, sem muitas delongas - não acredito em mais nada, não tenho esperança de melhora - cada dia as coisas vão cada vez mais piorando,não vejo nenhuma solução, somente problemas - Então para quê viver assim? Morrer não seria a melhor opção? Começar uma nova, em outro pais, em outro corpo,outra família. estou enjoado de tudo aqui, as mesmas caras, as mesmas falsidades.

tarde
16:40 - Será que estou com o começo de pneumonia? Se não ficar a bem até domingo vou procurar medico.Realmente estou muito preocupado com a minha frágil saúde.

Começo da noite
17:57 - A noite chega e com ela o frio,o corpo quente,uma moleza,uma fraqueza constante - minha arreliada cunhada na beira do fogão, arroto somente língua. Azafama das seis horas da tarde. Minha cunhada prepara a comida de seus bichos, os gatos e cães começam a latir e miar.
21:15 - venho para o quarto, mesmo com o fedor de merda de gato, é o melhor canto para repousar. Deito-me.. amanhã.... O friozinho abusado. Obrigado Senhor por mais um dia!



 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
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Publicado: 19/04/2016 06:03  Atualizado: 19/04/2016 06:03
 Re: O grande caderno azul
A veracidade do teu relato diário imprime a humanidade em cada palavra que leio, vendo as imagens, ouvindo o alarido da bicharada, numa mixórdia que é mesmo de picar os miolos em qualquer um, rsrs.
Mas vá lá, uns trocaditos para os bifes do almoço, outros para a continuação do trabalho, a presença do Eça, até que não foi um mal dia Amigo.

E verás que logo vais ter a saúde reforçada no melhor possível, é cuidar na corrente de ar nas costas, umas boas camisolas ajudando contra o frio, um bom caldo e logo vais estar novito, com a saúde como deve ser.

Forte abraço e muita sorte no intercambio.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/04/2016 02:10  Atualizado: 20/04/2016 02:10
 Re: O grande caderno azul
Oh mestre Queiroz, quantas memórias...
Também já tive essa tontura.
Sua fé e esperança melhoram a compostura.
Abraço