Poemas : 

Fidelidade ao pensamento

 
Percorro em pensamento as minhas memórias reais
Sigo, com alguma dor, mapeando a terra onde mentalmente me vejo crescer
Faço-o sem preconceitos, despido de formas concretas
De normas comuns ao olhar desinteressado do mundo
Liberto de ideais que formatam os homens
E da educação que os engorda nas laterais do corpo

Floresta concreta de sombras caídas
Tão sólidas e profundamente enraizadas nos corações
Que se tornam comuns à cidade e ao meu corpo
São dias abraçados a noites com pouca força nos braços
São homens que desistem de amar outros homens
Que deixam cair na sombra do ego o amor ao próximo e ao estranho
Porque amam somente o que é seu

Procuro, vestido de alguma esperança propositada
Pessoas incomuns que se interessem por pessoas incomuns
E desejo que este interesse lhes seja comum
E as converta em pessoas comuns
Que construam pontes entre estar vivo e viver
E sejam, no futuro merecido da criança que sou
Arquitectos de amor das paisagens naturais e humanas

Só, entre canteiros de flores e árvores crescidas
Perco-me pensamento plantado quando era luz e nasci
Envelheço temporalmente por fora, banco, jardim, descoberta
Porque a terra é fértil e convida a olhar
E olhar para ela com inocência
É aprender a viver na cidade
E falar dela às pessoas
É escrever poesia com a boca
Mas é apenas e só
O meu ar
O meu sonho
A minha ilusão.


Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.

 
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silva.d.c
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