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O TORMENTO DOS ACIMA DA MÉDIA

 
O TORMENTO DOS ACIMA DA MÉDIA

Quando eu tinha uns sete anos a minha mãe estava com um problema, e o resultado disso tudo diria o que eu ia passar pelo resto da vida.

Naqueles idos anos iniciais da década de sessenta, onde faltava tudo, tinha-se estragado o cano que levava a água suja da saída do tanque até embaixo no ralo, então ela pegou uma lata grande de 18 litros e pôs no lugar, e quando a lata estava cheia ela a levava para algum canto do quintal e a jogava fora.

E um dia eu vendo aquilo eu sugeri que a minha mãe fizesse um buraco na lata evitando assim ter que ficar carregando-a.
Lembro que a minha mãe falou assim: “Mas como é inteligente este menino!”

Só que o meu irmão, dois anos mais velhos que eu, estava perto fechou a cara, e sinto que aquilo foi o início da sua radical e crescente separação, e, então, devido também à falta de meu pai, pois ele era da marinha e sempre estava longe, fiquei sem referência na família e na minha infância e em quem me espelhar e isso fazia muita diferença naquela época.

A realização da ação de retorno na vida atual de uma pessoa é muito interessante quando temos este conhecimento espiritual, mas só depois que a gente tem a capacidade de fazer estas ligações a coisa começa a ficar clara, o que às vezes leva a vida inteira.

Eu não diria que esta capacidade de observar as coisas, e achar resultados, seja inteligência propriamente dita, mas só um censo aguçado de observação, e portanto um entendimento melhor do que acontece em nosso redor, e tirar daí as soluções, pois para tudo há soluções, mas nem todos tem esta capacidade de acha-las.

Então em casa eu não tinha esta aceitação do meu irmão, que se afastou de mim totalmente, pois seguiu uma vertente que não tinha nada a ver comigo, mas sempre tentei me aproximar inutilmente, e possivelmente eu tenha indiretamente influenciado o seu futuro também.

E no colégio até o 1ª ano do ensino fundamental, que equivalia naquela época ao 5ª ano de estudo, eu sempre fui muito bem, não era o “Caxias” tradicional, pois gostava muito de brincadeiras, mas esta capacidade fácil de aprender os afastavam de mim, me mantinham à parte.

Então os meus amigos sempre eram mais velhos do que eu, mas aquela falta de ter mais amigos e de ser aceito me fazia falta e eu comecei a me fechar em mim mesmo, para, silenciando, tentar ganha-los, e ai começou a anulação da minha personalidade.

Se a minha inteligência afastava as pessoas, então eu tinha que eliminar a minha inteligência, ou não deixa-la transparece-la.
Em casa a minha mãe sempre dizia: “Este menino vai longe” e ela não sabia o quanto eu odiava isso e o quanto mal me fazia dizendo isso, pois, além de tudo, me jogava uma carga de responsabilidade que me oprimia e tirava a minha liberdade.

Comecei a procurar outros caminhos alternativos, eram anos setenta e haviam muitas vertentes e muitos eram pessoas como eu, que pensavam um pouco mais além do seu tempo, e ansiavam por novas experiências.

Já no 1ª do fundamental no de hoje eu acho, eu estava com 11 anos e fui o único aluno da sala a passar direto sem ter que passar por mais um período de recuperação, e cheio de paparicos por parte dos professores, mas quando veio os doze anos o caminho começou já a ser outro.

O banco escolar já não tinha o ritmo que satisfizesse a minha alma e ai começou o período acima, não que os meus amigos passaram a ser os bagunceiros, que não tinham nada a ver, mas eram diferentes, mais rebeldes, e mais afinados com aqueles anos de efervescência cultural, e ai cai na vida em busca de vivências.

Terminei o ginasial mal e porcamente, e ai veio o 1º ano dos últimos 03 que nos separava do vestibular e ai aconteceu algo inusitado. Neste primeiro ano eu já estava na vida, e gazeteava direto, pois amigos mais velhos vinham com seus Opalas da moda me buscar até dentro das salas para sairmos e neste primeiro ano, quando chegou as férias de Julho, eu emendei e quase no início de Agosto é que voltei às aulas, nesta altura eu não tinha mais família me
acompanhando.

E quando cheguei no colégio, que era o maior e o melhor do Paraná, algum professor me avisou que o diretor, que eu nem sabia quem era, pois o colégio era enorme e tinha mais de três mil alunos, queria falar comigo. Então lá fui por aqueles corredores longos, e tive um dos momentos mais tristes da minha vida, pois o diretor queria me conhecer e me dar os parabéns, pois eu tinha sido muito elogiado na reunião semestral dos professores, não pelas notas, que já eram só o suficiente para passar, mas sim pela dinâmica e brincadeiras que eu dava às aulas, e ai ele perguntou:

“E as notas como é que estão? E eu já deprimido por saber que estava perdendo alguma coisa muito importante para a minha vida, mas não via outra saída, e que iria decepcioná-lo também, assim como tinha sido na minha família, mais um, e tive que dizer que nas notas até que estava bem, mas provavelmente já estava reprovado por faltas e sai de lá melancólico, sabendo que não existia ninguém que poderia me ajudar. Estava só no mundo.

Então acho que fui um dos poucos alunos da minha época de ter sido elogiado não pelas minhas notas, mas pela minha postura dinâmica dentro da sala de aula, pois tudo questionava, era minha busca de esclarecimentos sobre a vida e sobre as inquietações em um crescente que estava ocorrendo na minha alma.

Mas queria ser aceito, então fui me anulando para isso, até chegar à anulação completa a ponto de atravessar um rua quando via alguém conhecido vindo em sentido contrário.

Moral: Não consegui nenhum amigo e me tornei um ermitão, anulado totalmente e sem saber mais nem quem era eu.

Mas você pensa que isto ficou restrito àquela época,? Bom se fosse. Nos empregos os chefes tinham medo que eu tirasse os empregos deles, os companheiros também, então eu não esquentava lugar, nunca fui demitido, mas sempre pedia a conta, até ver que de empregado eu não iria ganhar a vida, e tive que ir à luta até achar algum caminho.

Mas não, isto nunca terminou, isso nunca termina, até hoje tenho que abrir mão de algo, ou deixar passar algo sem comentar, tenho que ser contorcionista para ser aceito em algum lugar, mas também sei que ninguém dá lugar a ninguém, você é que tem que conquistar, e já não ligo prá ninguem, já não tenho necessidade de ser aceito, e talvez, por isso, agora tenha tantos amigos verdadeiros, o que também dá inveja a muita gente. Ê mundo difícil.

É a vida.

“Quem possui em si firme vontade para o bem e se esforça por outorgar pureza a seus pensamentos, esse já achou o caminho para o Altíssimo! E assim, tudo o mais lhe será concedido.’ Abdruschin em Na Luz da Verdade - www.graal.org.br




"A felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo" Roselis von Sass - www.graal.org.br

 
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Enviado por Tópico
CornelioSinfronio
Publicado: 16/04/2016 23:11  Atualizado: 16/04/2016 23:11
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 Re: O TORMENTO DOS ACIMA DA MÉDIA
Saiba, meu caro poeta que entendo perfeitamente esse teu sentimento. Nós, que temos mentes privilegiadas muitas vezes temos que nos refrear para que os que estão abaixo de nós possam ter alguma oportunidade. Sabemos da capacidade que temos e qualquer coisa que nos propusermos a fazer, com toda a certeza faremos melhor do que qualquer um. Isso que outras pessoas temem. Ter a incapacidade revelada diante de pessoas privilegiadas e que não têm falso pudor em alardear isso. Um abraço, amigo poeta. Parabéns pelo seu belo texto e saiba que a modéstia é a virtude dos incapazes de tentar.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/04/2016 15:12  Atualizado: 17/04/2016 15:12
 Re: O TORMENTO DOS ACIMA DA MÉDIA
É a realidade, cada um cuidando do seu nariz!