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O grande caderno azul - XLVI

 
XLVI

Quarta-feira, 19.02.2014

Minha cunhada vai a luta em companhia de Tia Fleur em busca de sua tão sonhada aposentadoria. Que Deus a ajude, apesar das circunstância. Mas Deus é bom!
L'telier de la vie
De volta ao velho mundo de todos os dias,onde nada acontece.Pasmaceira dos diabos.Tudo contra mim,uma dorzinha chata de cabeça. Amanhã trabalho na grade de Dona Francisca para entregar-lhe sábado, se Deus quiser. Releio "O Jogador" do mestre russo e fico imaginando, ele ditando para sua bela secretaria taquigrafar. Depois que assisti o filme "Os Demônios de Petersburgo" conheci mais um pouco a intimidade do mestre.Pressionado pelo avaro editor que lhe adiantara uma parte em ou o dinheiro todo.Tinha que entregar o original no prazo.Então resolveu contratar uma estenográfica para auxilia-lo. E deu certo e no final os dois se casaram. Não adianta, eu sou um safado mesmo.
Uma manhã radiosa com um belo sol,um ceu azul com nuvens esparsas,as mães com as sacolas de compras vindo do mercado depois de deixar os filhos nas escolas.O barulho peculiar do motor a diesel da Toyota Bandeirante do Deposito Bastos manobrando. Uma caçamba fumacenta. Dona Edna vizinha da frente varre a sala. A irmãzinha e sua filhota me cumprimentam da calçada.As gostosa nas suas calças apertadas de cotton vão para academia - agora é a coqueluche aqui na Vila, todas querem ficar gostosas. Lembrei-me de uma figura que trabalhou comigo no Juizado, Dona Edna a poderosa e metida a chique, devia Deus Deus e o mundo mas não perdia a pose, sempre por cima - Barraqueira, falava só em riqueza e detestava pobre. E numa bela tarde a encontrei no ônibus vindo para cá,toda chique e perfumada, ao me ver baixou a cabeça e eu fiz que não a vi, para não constrange-la. Como será o capitulo inicial de "Moço Velho"? Ainda não conseguir articular,mas tenho certeza que a partir que eu parta para tal empreitada,saberei levar. Como gostaria de escrever como Miller em "Tropico de Capricórnio" - uma coisa diferente, sem cai na mesmice de sempre ou a fluência liquida de Jack Kerouac ou malandragem de Bukowski. Me sinto bloqueado enquanto não finalizar ou melhor digitar o ultimo capitulo de "Além das Nevoas Azuis", cai numa depressão pós-parto que renego cada vez mais. Ou Hemingway na primeira parte das"Aventuras de Nick Adams" pelo Lago Michigan visitando uma aldeia indígena com o pai medico para fazer um parto. ou o conto "Dez Índios" para mim é o melhor. Vou com Dickens à Prisão de Fleet, visitar o Sr. Picwick e os eu fiel mordomo Sam Weller.
11 e pouca - o tempo nublou e chuviscou ainda pouco. Relia Dickens, Sr.Picwick saiu da Prisão de Fleet,onde a Sra. viúva Bardell também foi presa a mando de seus inescrupulosos advogados Dodson e Fogson. Dr.Winkle raptou a bela Allen e casou-se com a mesma. O irmão dela o serra-ossos Benjamim Allen já a tinha prometido para o amigo Bob Sawyer - a minha velha dor ciática, a promessa de um trabalho para amanhã, encontrei umas varetas de soldas,o que deixou-me bem feliz. estou no capitulo "A Historia do Tio Bufarinheiro zarolho".
11:40 - A dorzinha chata.A ultima galinha do congelador foi cozida para almoço de hoje, amanhã a Deus pertence, vai começar a penúria,que Deus tenha pena de nós. Vou comer o resto da língua que Tia Lena cozinhou na segunda-feira. Meu jantar e bem frugal;pão com suco de tamarindo, mas minha cunhada não aceita,tem que almoçar e jantar bem, até os bichos dela não podem ficar sem o rango nossa de cada dia.
16:25 - Emocionado com o filme sobre a vida do grande mestre do espiritismo, o mineiro Chico Xavier - eu o respeito muito apesar de não ser espírita.
17:47 - depois da caminhada tradicional até a padaria, onde compro um real de pão, que agora vem apenas très pães. O velho Senhor Chapéu proprietário com o ar cansado sentado na porta com o boné no colo.A filha mais nova despedia-se dele sob o olhar vigilante da irmã mais velha que estava no caixa. Antes passei na farmácia do canto da Rua 15, fiquei surpreso como peso auferido no visor da balança digital. Descalçei-me das sandálias, coloquei o livro "O Jogador" sobre a tampa transparente do freezer de sorvete e picolés e subi no prato e os números embaralharam-se até parecer os 58kg. Até agora estou surpreso, pensei preciso pesar-me em outra balança na farmácia da Loura, mas desisti. Fiquei assombrado com as pernas cambotas de uma senhora que levava a filha e por coincidência também entrou na padaria. Ao passar pela porta de um bar próximo,ouvi alguém chamar-me de poeta, parei e olhei para dentro. Era um conhecido. Balancei cabeça. Na volta com sacolinha de pão na mão direita e Dostoiévski na esquerda retornei tranquilamente como um filosofo a contemplar as faces da existências. Hoje o jantar vai ser beiju com café, um bom sinal que estamos nos adaptando aos tempos dificieis. No meu quarto tirei a bermuda e a camisa que enrolei com muito cuidado e esmero e recoloquei na gaveta da cômoda. Depois vesti o meu calçãozinho preto com cheirinho e uma camisa de meia surrada pelo tempo e sobre esta outra camiseta azul - ambos doação do meu amado filho há uns três anos atrás.. Deito-me no sofazinho e vou ler "As Minas do Rei Salomão".
20;10 - lendo o livro "Abusado - O Dono do Morro Dona Marta do repórter Caco Barcelo que Niu, filho de seu Eriberto me emprestou e entreguei-lhe "Dom Quixote" de Cervantes e "Capitães de areia" do grande baiano Jorge Amado. Obrigado Senhor!

http://www.sitedoescritor.com.br/site ... es_d0037_rnrodrigues.html

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/04/2016 08:52  Atualizado: 18/04/2016 08:52
 Re: O grande caderno azul - XLVI
Mais um belo capítulo Raimundo. Vou tomar nota desse filme para ver. Gosto muito de filmes sobre a vida de artistas. Lembrei-me de Les enfants du siècle, sobre a tórrida relação entre Aflred Musset e Georges Sand. Caramba, agora quase chorei. Esse filme teve tanto impacto na minha vida...
Abraço