Era um dia comum de verão, e, como de costume, eu estava a voltar da faculdade no transporte público; com assentos de plásticos, um tanto desconfortáveis, e janelas sem cortinas que, de maneira alguma, impediam que os raios solares invadissem o meu espaço, pousando sobre minha pele.
Aquele dia, como já falado, não era diferente dos outros. Lá estava eu e os meus fones brancos encardidos pelo tempo, e/ou bagunça da minha bolsa (bagunça da minha vida), sentada solitária perto da janela do ônibus, quando ouvi vozes, quase incompreensíveis por causa do fone no volume máximo, a tocar A day in the life, que gritavam algo do tipo: “Vai, se joga” “Eu duvido.” “Pula, cara!”.
A ponte não era muito alta, mas tenho impressão que causaria alguns estragos. Não sei se é falta de memória, ou se foi a rapidez do ônibus que não me deixou ver com clareza o acontecido, só sei que ali estava uma pessoa, que, por motivos que desconheço, desejava naquele momento esmagar sua vida num pulo de uma ponte. Doeu-me tudo por dentro ouvir aqueles absurdos; seres humanos riam, seres humanos zombavam, seres humanos criticavam, seres humanos o incentivavam a se matar. Seres humanos, ah! Nem sei mais se ainda os posso chamar assim.
Hoje em dia é tão difícil de encontrar seres humanos, muitas vezes o que se vê andando por aí são seres, mas não humanos.
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