Eu queria escrever em beleza
Mas isto é uma tristeza
Nem já os acentos conheço.
Em papá não pus acento
E lá para os lados de São Bento
Foi o rir do meu tropeço.
Vou ecrever um poema!
Mas que grande dilema...
Poema, ele tem acento?
Mas como posso eu fazer
Se nem sequer sei escrever?
Mas que grande sofrimento!
Acentos, há graves e agudos
Ondulados e bicudos
Como o acento circunflexo.
Não sei onde os aplicar
Será melhor abdicar
Estou cheio de conplexos.
Vou esquecer minhas penas
Não farei mais tristes cenas
Será uma mudança radical.
Meu destino é o desterro
Lá rirei também do meu erro
E que me valha São Marçal.
Estava ainda a R.D.P. Internacional, na rue de Sâo Marçal, escrevi um poema para o dia do pai a pedido do Senhor Mendes Callais, realisador desta Rádio. Escrevi, lembras-te quando me disses-te que eu ia ser papá?
Esqueci-me do acento e escrevi papa. Brazão Gil, um excelente poeta, já falecido, leu este poema aos microfones e em vez de dizer papá, disse:
lembras-te quando me disses-te que eu ia ser papa?
Foi uma brindeira dos diabos, e então esrevi este poema a quem o enviei.
A. da fonseca