Quando eu morrer,
acerto com Deus os
cigarros que fumei
na pesada madrugada,
ouvindo músicas anacrônicas
sem querer o mal de ninguém, em paz.
Os palavrões cabeludos quando
liguei a tv e vi mais uma fraude
de cínicos homens públicos.
A ancas fartas que olhei na rua,
as centenas de filmes de moças
peladas sendo penetradas,
as descascadas que cometi.
Acerto com ele as aulas que
matei para conhecer um pouco
mais esse Rio bonito, por meu
currículo ser vazio, por eu
detestar ficar dentro de uma
sala de aula com um monte de
crianças babacas e um professor
que não sabia dar aula,
eu via a infelicidade na
testa grande dele.
Acerto com Ele às vezes que
a minha querida Remédios me
obrigava a assistir o culto
das oito e por meus olhos
estarem vermelhos.
Acerto com ele por eu gostar
do estilo abominado
pelos pastores, o rock,
do monólogo sério... o rap.
Por eu ter bebido cachaça e
fumado a erva do capeta em
noites de acampamento somente
para rir das coisas ridículas
que eram feitas por empregados
puxa-sacos do meu trabalho de
renda vergonhosa.
Não será um homem carregado de
falhas, com o Novo Testamento
debaixo do braço que irá me julgar.
Somente Ele.