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O grande caderno azul - XXXVII

 


XXXVII

- Bom dia, minha vida no décimo dia de fevereiro!
Uma dor de cabeça desde ontem,o corpo febril. A agua chegou cedo e as seis e meia coloquei a bomba para puxa-la do cano da rua para encher a caixa d'agua. Comprei pão. A garganta irritada.

L'atelier de la vie

A segunda que pensei que iria começar bem, porque quando fui comprar pão na padaria do Senhor Chapéu e suas hijas, depois do Deposito Abreu. Um conhecido numa moto,parou e chamou-me para informar-me que traria um portão para soldar as dobradices. Quando cheguei aqui na oficina e estava serrando os ferros da grade do portão da irmãzinha/vizinha da rua 23 -a triste noticia, as duas grades de Nazário, o empreiteiro,uma delas a do portão o ferrolho ficou muito embaixo.Oh! céus! - o mundo ruiu sobre a minha cabeça. Ele já trouxe a grade menor. Serrei todos os ferros. A esposa de um cliente vem orientar-se quanto o preço de uma grade para janela. Segunda a mesma vem trazer o dinheiro amanhã.
)9:30 - Nazário trouxe os portões para consertar. Jean Pt estacionou sua "Ferrari" sobre a calçada e veio fazer-me companhia até ainda pouco.Lavei as mãos com urina. Uma fomizinha enjoada. Vou ler Henry Miller,o santo sacana que tanto admiro pela coragem de lavar a roupa suja para o publico.
Bocejo sonolento provocado pela ingestão de uma pílula para dor de cabeça.Sinto pela narina, aquela mesma sensação que tinha quando me empaturrava de analgésicos Optalidons.. O estômago arreliado também. A senhorita seria, talvez empregada em alguma residência e vai apanhar o filho ou os filhos da patroa. Gordinho estaciona sua bicicleta e vem prosear. Claudio Slech, velho amigo também. Agora é a vez do clown Diogo que diz que vai trazer uma dose de pinga para beber aqui. Enquanto não escrevo a minha cabeça fervilha de pensamentos rápidos e intercalados.Lembrando-me da cena do fuzilamento de Bonnie e Clyde,que não tiveram a mínima chance de defesa ou o programa lúgubre "Mil e uma maneira de morrer" do pobre mímico que morreu engasgado por um pedaço de picles, do policial doidão que deixou a arma cai e quando foi apanha-la ela disparou e acertou a sua cabeça ou do rapaz que foi fazer uma ligação clandestina na caixa do cabo axial da tv a cabo do vizinho e colocou a chave de fenda na boca, escorregou e saiu rolando pela escada a baixo até cai de cabeça na ultima plataforma e a chave perpassou o seu cérebro e teve morte instantânea ou do segurança nervoso que empurrou o rapaz e este deslocou o cano de apoio do toldo e a parte do outro perfurou o cabeça dele - são mortes encabulosas e bizarras frutos de uma moleza inesperada.
12:40 - Fechei o l'atelier as onze e meia. Subi o morro sem gravata, a irmã do Salão de beleza estava triste,pensativa e solitária. Nha Pú atravessava a avenida com um balde plástico cheio de agua para dar aos seus bois. Confesso que estava louco para beber uma cachaça, fui na galeteria do Irmãozinho, que estava com uma ressaca e o pior ou melhor não tinha as linguiças assadas.Desci para o mercado,ao passar na lojinha de meu conhecido,tive o desprazer de chegar no momento inoportuno, quando ele e a ex lavavam as suas roupas sujas. Na Praça do Bacurizeiro, Seu Jailton Pé-de-Pato dormia sobre um banco de cimento debaixo da frondosa amendoeira e Alan Black como um zumbi sentado no sofá. Tomei uma dose no Motinha bem no canto do mercado com a praça e comprei um toucinho que já preparei para almoçar.

Tarde
Como previra a paz acabou, minha cunhada esta feliz, o 'filho', a mãe, a filha e seus dois filhos fazem a festa na pequena sala. Como pode ser uma coisa dessa.Isso vai ser todo dia, esse abuso de sempre. estou no quarto, sentado na beira da cama. Como tem pessoa como a minha cunhada que se deixa envolver por esse tipo de gente que não tem o mínimo respeito pelos outros,gostam de sugar e nada dão em troca. E meu irmão e minha cunhada ficam fazendo papel de bobos para agrada-los.E no finalmente o malho neles, cospem no próprio prato que comeram. Não gosto de falsidades, e são isso que eles são um bando de aproveitadores. Só minha cunhada que não enxerga o óbvio, fica toda pimpona com a presença deles..

Final da tarde
17:40 - A garganta hiper-inflamada,o corpo todo dolorido, as juntas, o corpo febril. Até quando espirro ou arroto. Estou mal mesmo abatido. Comprei os pães na marra,mas quando cheguei estava pelas tabelas. Acho que tudo a minha dieta a base de pão, linguiça estão me enfraquecendo. Respiro com dificuldade,gargarejo com agua e a casca de romã. Um mal-estar generalizado.

Noite
19:10 - Acabei de ler Henry Miller, adeus Nova York, adeus Brooklyn, a alfaiataria do velho Miller, a sofredora esposa e a filha por ele rejeitado, a irmã doente, os seus amigos que ele sempre ferrava,a Broadway - a agencia telegráfica, os passeios solitários pelas ruas vazias, a preguiça de encarar um trabalho regular,o amor por Proust e Dostoiévski, um grande sacana,mas um puto de um escritor criativo que era surrealista, um romântico, um pianista que gostava de Beethoven e odiava Mozart.
19:55 - Vou para Petersburgo, acompanhar os últimos dias de liberdade do atormentado Raskolnikov.
20:45 - Concluída a leitura - Adeus Sonia, Raskolnikov, Dunia, adeus - Colocarei-o no seu lugar ao lado dos outros livros de sua autoria.Obrigado Dostoiévski!. O que seria o mundo sem vocês? Principalmente o meu. Au revoir,mon bon ami!. Adieu! Hasta la vista!


 
Autor
r.n.rodrigues
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 06/04/2016 17:21  Atualizado: 06/04/2016 17:21
 Re: O grande caderno azul - XXXVII
Gostei muito de ler sua vida sofrida com grande elevação de espírito. Também admiro Miller, mas Dostoiévski me engasga, por certo defeito meu. Casca de romã é maravilhoso e recomendo também camomila.

Abraço