Não me sufoquem com pesado granito,
nem o bronze me atrai a vontade,
na vala comum meu destino é liberto,
do pranto das viúvas chorosas.
Vejo as luzes de fogos de artifício,
à espera do trovão subsequente.
Lembro-me de relâmpagos,
do clarão dos canhões
no calor de mais uma batalha
quando dez pessoas morriam a cada minuto.
Como entender essas luzes no céu
alegres como fogos da aurora boreal
inspirando o vigor da fé inabalável
sobre o desespero reinante no front.
Em algum lugar perto daqui
a esposa, a mãe extremosa pranteia
saudosa da risada familiar
que não mais verá nas faces dos mortos.
Oito quadras foi preciso avançar,
entre o turbilhão de balas e fogo.
A cada minuto dez vidas perdidas
sob a chuva dos obuses,
espocando na noite de breu,
como se acendendo círios nas nuvens,
no réquiem das almas presentes.
Então, me sepultem na vala comum
sem cruzes, nem adereços,
onde viúvas não depositam flores,
mas arde vivamente um buque de chamas,
no fogo eterno das almas perdidas,
dos homens que morrem em combate.
Seria o destino somente sem outra opção,
nestes escombros amar, lutar...
e sonhar sem ousar esquecer
os olhares do terror instalado
nas faces de todos os mortos,
dez mortos a cada minuto.