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O grande caderno azul - XXXI

 


XXXI

Era nebulosa, chuvosa e fazia um pouquinho de frio naquela manhã de terça-feira do quarto dia do segundo mês do ano de 2014 - Somente um café au lait e nada mais. Dormi mal e acordei as sete e quinze da manhã. Ceu cinzento. E o Bonde Ovariano de Mr. Henry Miller continua deslizar aereamente pelas cabeças e ruas de sua Nova York cinzenta de sua América selvagem repleto de seres repugnantes e belas almas desfilando na noite da Broadway - com seus judeus erráticos, de suas putas com sua pernas de fora e meias rasgadas, dos suores de seus burocratas capitalistas massacrando os pobres indefesos funcionários inferiores.
11:15 - - Não é mas esse horário,no momento em que começaria escrever o meu braço ainda estava molhado, portanto, optei em entra no Bonde - gostei de Miller escrever sobre o seu velho pai, alfaiate que morreu porque parou subitamente de beber. De seus grodes nas tardes de sábado nos bares da Estação das Barcas, de no final de sua vida converter-se e virar uma ancião de uma Igreja Congregacional e como idolatrava o ministro. O pai de Miller era como Nho Bamba, apesar que o groque dele era foder as putas do Zona do Baixo Meretrício todas as noites quando vinha da reunião noturna tradicional do Senadinho das Praças João Lisboa ou Benedito Leite onde reuniam com senhores respeitáveis de sua mesma idade. Papai tinha grandes amigos que também eram comerciantes na mesma área, como Seu José Alonso Rabelo,que residia numa confortável casa na ladeira da Rua Antonio Rayol quase ao lado do fundo do Supermercado Lusitana da Rua de Santana. O que matou papai mais depressa foi o ócio da aposentadoria, a diabete e o mal de Alzheimer. Os seus últimos dias foram triste vê-lo com um zumbi, sem noção de nada, com a bermuda do pijama suja de urina e fezes, não dormia, agredia mamãe. Descansou inocentemente aos setenta e poucos anos.
- Meio-dia em ponto! - Me responde o vizinho que trabalha consertando e pintando geladeiras conhecido como Seu Comimho.

Começo da tarde
Adiantei o portão de Nazario, o empresario.O rapaz da caixa veio me despachara, vai adotar outro sistema. Meu amigo Jailton que mora com a mãezinha dele e o sobrinho no São Benedito surpreendeu-me dando-me dez reais sem que eu o ferrasse, primeiro mandou-me trocar vinte reais, o que tinha guardado entreguei-lhe os dez reais trocado em cinco notas de dois reais. Com essa vou embora.
14:30 - meus olhos estão querendo inflamar,por este motivo não irei a lan-house. Comprei macarrão ninho, ervilha e milho, molho de tomate e uma linguiça defumada. Depois dirigi-me a padaria para a tradicional compra do pão. Adrielle concentrada com a mão no queixo não pisca nem os olhos vendo Pac-Man. Vamos devagar, não adaianta correr, já esperei esse tempo todo estou alguns passos da finalização do grande romance.

Começo da noite
18:10 - Meu olho direito esta inflamado, bem vermelho arde muito como tivesse areia dentro. Relia o meu diário de 86, vejo que tinha uma vida somente dedicado a fumar diamba principalmente em 1986. Emociono-me com o enterro do grande compositor conterrâneo Nonato Buzar, autor do tema antológico da novela "Irmãos Coragem" que fez muito sucesso nos anos 70. Foi na sua cidade natal de Itapecuru-MIrim.
20:10 - terminou o Jornal nacional, jantei uma boa macarronada que minha amada cunhada preparou com muito bom gosto e esmero.Em 1985 ainda não tinha descoberto Dostoiévski, devido a raridade e a dificuldade de encontrar seus livros na Banca do Irmão na descida da Avenida Magalhães de Almeida na calçada do prédio do Ferro de Engomar. Os livros que adquiri naquela época todos foram comprados fiados que chegaram a um debito estratosférico,todos os dias quando vinha de comprar pão no Supermercado Lusitana, levava alguns exemplares e punha na conta que foram pagos numa feitura de uma banca de ferro que passei quase uns cinco anos para concluir.. Tinha Dickens "Oliver Twist", David Copperfield" e Grandes Esperanças". Os melhores livros foram surrupiados na Mansão Jandariana onde morei logo depois que Papai Bamba vendeu a Grande Casa Grande a legitima e única Casa Bamba a verdadeira da Rua Afonso Pena no bairro do Desterro, onde fui o único filho que lá nasceu, quando ainda era a grande Oficina de Ferreiro, depois virou o comercio B.Silva & Cia. Pai Bamba era um homem versátil e inteligente, mesmo sendo um semi-lafabeto, foi ele que levou Dostoiévski e Dickens e as vezes tinha seus acessos monstruosos de fúria que eu que diga, fui vitima de varias surras uma delas me deixou uma semana no vinha d'alho quando eu tinha apenas oito anos ou nove anos anos de idade. Mas mesmo assim nunca deixei-o de ama-lo e repetia-lo até seus últimos dias, e ele que ensinou-me a minha profissão de serralheiro. Hoje quando li a descrição de Miller sobre o seu pai,pensei muito no meu. Mestre Serralheiro Prequinho, o' best dos best' continua na luta na sua oficina na Praça do Viva. Ouço o os trinados do martelo desempenando alguma barra de ferro. Adrielle brinca sentada no sofá com suas bonecas.
21:35 - Ouço uma opera "Tutto Tace" ((L'amico,Fritz) com R.Alágna A. Gheorghiu-Mascg. Ontem não ouvi o Réquiem de Mozart enquanto digitava o romance. Choveu um pouco e fez um friozinho. Meu calção fede a urina - Larissa merenda na copa-cozinha. Antes porem de ler Miller depois dei uma olhada em duas paginas do romance do russo Bitov - "A Casa Puckin" - é um pouco intrigado, as vezes tem bom ritmo. Miller também usa muito o 'de repente' assim como o bom Dostoiévski - quando leio eu o sublinho.Devo confessar que um dos meus lençóis esta fedendo barbaridades.
22:50-lendo o eterno Dostoiévski "Crime e castigo",meu olho esquerdo doendo ou melhor ardendo como tivesse caído sabão nele.Os gatos no cio.Os grilos cantando Vou deitar-me e sonhar com dias melhores.
Obrigado Senhor por mais esse dia, apesar de tudo vale apenas acreditar que um dia as coisas melhorarão.Quando fecho os olhos, ai que arde mais.

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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