Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus
Mais uma madrugada inteira
acordei como suando no Alasca
uivando tal vento na nevasca,
palhaço de trágica pantomima
observando a vela de cera
queimar de baixo para cima
talvez sob efeitos do ayahuasca
vendo-me no andar superior
debaixo de telhado vítreo cristalino
sem ter atravessado o mezanino.
.
.
.
...
[Ao
terceiro
sinal
quando
badalavam
frenéticos
os sinos
da despedida
o poeta
foi ferido
acidentalmente
por um
motorista
bêbado
de um Camaro
automático
que não era
amarelo.]
...
.
.
.
Enquanto prosseguia a vela
no queimar diferente,
acordando de mais uma fantasia
indiferente era só mazela
despertava todo mal latente.
.
.
.
...
Procurei
mesmo
no escuro
onde
apertar
o botão
que aciona
a despedida
para morrer
quando ainda
era noite,
alguma alegria
no peito havia,
acalentado
pela brisa
maliciosa
acariciando
levemente
o rosto.
...
.
.
Afinal, mesmo no final do dia,
nenhuma estrela sequer se via,
retornando de outra viagem
amargando o gosto do tanino
estranhando o sonho sem sentido
sem ter obtido sequer vantagem
ignoro a lua com olhar ferino
tanta atribulação, tanto percalço
deixo me envolver pela madrugada
para afinal morrer descalço
no caminho da eternidade almejada.