Textos : 

O grande caderno azul

 


XXIX

Meia-noite e dez do primeiro domingo de fevereiro _ Desliguei a televisão, vou ler Miller.
01:10 - Como disse acima Miller, assim como os outros gênios literários me inspiram muito e é nesse ponto de vista que quero trabalhar no meu próximo livro "Moço Velho" -
Obrigado Senhor!

Manhã nublada e um pouco fria - O desespero de minha cunhada com o congelador vazio. A fome é a minha eterna companheira sempre de barriga roncando. Ainda bem que deixei um pão para o desjejum, amenizar um pouco. Minha cunhada reclama de uma disfunção dérmica que saiu nas suas costas, umas bolhas que irromperam. Um samba enredo dos tempos da Rua Afonso Pena. Tive um sonho com se fosse um documentário interessante narrando a vida de certos negros na época da escravatura que devido a seus falos enormes caiam nas graças de suas senhorias brancas, levando-os para trabalhar com pajem na Casa Grande - A brancas folgozas ficavam maravilhadas com as peripécias sexuais dos negros. E a maioria delas tinham o seu negrinho para satisfaze-las que elas criavam desde os doze anos, tirando da lida pesada, as vezes elas engravidava, os sues maridos cornos eram obrigados a cria-los com se fossem deles. E esses negros eram alfabetizados, inteligentes e sabiam tirara o proveito da situação para conseguir melhorias para os seus familiares, as vezes até uma carta de alforria,principalmente quando as brancas eram viúvas e viviam nas fazendas isoladas, longe dos olhos da civilização. Outras mais afoitas, mandavam os maridos erguerem casarões na cidade com a desculpa de acompanhar os filhos nos estudos, mas na realidade era outra. Geralmente esses negros dormiam nos quartos continuou a da madame. As vezes elas embriagavam os maridos e nas manhãs seguintes acordavam alegres e saciadas e os cornos também pensando serem eles os autores das proezas que as deixavam as suas esposas
10;30 - Quem salvou o rango dominical foi Sarinha que emprestou o cartão de credito para a mãe fazer as compras necessitarias para fugirmos da fome iminente. A pequena Adrielle sorriu toda contente quando a carrancuda Larissa trouxe-lhe e estendeu-lhe a metade de ma maçã. Na copa-cozinha os miados dos gatos reverberam pela casa toda ao lado do martelar da faca cortando as carnes e um samba encabuloso no fanho rádio estropiado sobre a tábua de engomar.Eu como sempre vergando o meu fétido calçãozinho preto com as listas brancas encardidas, exalando aquele cheirinho desagradável que tanto amo, sentado no velho sofá sem espuma e esfarrapado coberto por uma capa vermelha que esconde a sua miserável condição. Lendo ou melhor relendo o velho sacana do Miller e entendendo melhor o livro depois que reli a sua pequena biografia. O odor das merdas dos cães e gatos invadem a sala trazido pelo vento sutil que entra pela porta assim como a réstia de sol que se espalha na degastada lajota, Antenor entra tateando as paredes com os passos cautelosos, conversavam com alguém na porta, provavelmente um irão do salão. Uma voz chama minha cunhada do terraço. Um vizinha que deu-lhe um saco de juçara. Antenor faz as suas indiscretas perguntas enquanto ateia rapidamente as folhas de seu livro em braille. Mudo de canal para Adrielle ver um desenho animado.. A vida de Miller não foi fácil, mas deu a volta por cima, tornando-se um ícone da moderna literatura.É um exemplo que tento seguir.
11:01 - Fui comprar um litro de vinho para minha cunhada no Paul Clive na avenida, que estava hiper-movimentada de veículos subindo e descendo assim como os transeuntes apressados. Sprite, o flanelinha lava um carro na porta de Seu Eriberto, O vendedor de carne de porco sentado num banquinho improvisado na calçada em frente ao trailer de Zamba conversava com um velho parceiro.. A esposa do dono da Mercearia,uma branca simpática ordenava ao motorista de seu caminhão que estacionasse sobre a calçada em frente ao seu comercio. Quando voltava com as compras hesitava se ia ou não na praça de detrás do Mercado mendigar umas doses, mas pensei bem e vi que não estava preparado psicologicamente e fisicamente para encarar essa empreitada que já sei com termina. Eu embriagado vacilando, gastando o pouco que tenho ou ferrando ou melhor mendigando alguns trocados para comprar uma dose. Tenho que conscientizar-me que o álcool me domina e que a melhor maneira é evitando a primeira dose, porque não adianta-me convencer-me que me satisfarei com algumas doses, só ficarei feliz quando em enlouqueço por completo e fico vacilando com um palhaço. Venho dormir, não almoço ou se almoço me alimento mal e quando acordo vem a vontade insana de encher a cara novamente até perder o controle a acabar dormindo em algum banco da praça.. E amanhã não trabalho e continuou na bebedeira com os"papudinhos" da Praça achando que estou com a bola toda e assim recomeça todo o circulo novamente.Gostaria de pensar sempre assim, mas isso não ocorre. Mais de três semanas ou um mês e alguns dias que não digito o meu sonhado romance, tudo culpado desse álcool que devora os meus sentimentos e me deprime - mas não tomo vergonha.
11:25 Uma colega de Sara chega para filara o almoço. Tia R. chega para sondar o ambiente e com certeza prepara o terreno para também fazer uma boquinha juntamente com o parceiro.E assim aos poucos vão chegando com suas conversas e vão encostando. Queria ver se não tivesse nada como seria a situação e minha cunhada é uma boa alma que não sabe negar nada a ninguém. Para completar chega a neta e daqui a pouco o parceiro aparece com uma desculpa qualquer. E minha cunhada fica feliz com essas inusitadas visitas que gostam de explorara-la, assim como o benévolo do meu generosos irmão para depois falar mal da gente pelas costas. Por isso fico na minha, colegas somente lá fora, aqui não. A neta esta cagada, o que obriga um retirada não esperada, daqui a pouco chega mais convidados inesperados, mas ninguém traz nada para minha cunhada, somente a boca. (continua)

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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