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À janela uvas passas

 
À janela uvas passas
olhavam desmedidas p’las nervuras das parras de figueiras
caídas lentas,
ronceiras,
por sobre o chão aveludado p’las entranhas do arado.
[Era o Outono das águas a escorrer-se madraço no zinco aceso das caleiras].

Um passo em frente
e outro, já recuado, e logo o gato saltava lépido o vermelho dos beirados
num compasso d’antanho e na firmeza de que não havia ali
nem alma
nem gesto (pequeno ou tamanho)
nem bafo (doce ou agreste), sequer que fosse, de ser vivente.

À janela costumeira
dependuravam-se harmónicas de ventos por fios assexuados,
se lâminas d’águas eram, dos olhos, grossos bagos.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
maduro
Publicado: 26/02/2008 22:20  Atualizado: 26/02/2008 22:20
Muito Participativo
Usuário desde: 09/02/2008
Localidade: Santa Maria da Feira
Mensagens: 73
 Re: À janela uvas passas
Gostei.
A poesia deve ser assim com ambiência, deve ter um fio, e às vezes pensamos que é um deitar cá para fora de jaculatórias mais ou menos sonantes e arrevesadas.


Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 26/02/2008 22:51  Atualizado: 26/02/2008 22:51
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Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: À janela uvas passas
Mel, mais um trabalho singular, de muita significação. O interessante da tua poesia é que eu consigo me desligar do mundo e vejo cristalinas as imagens contidas. Um beijo terno, Núria.

Enviado por Tópico
*ci*
Publicado: 27/02/2008 09:31  Atualizado: 27/02/2008 09:31
Colaborador
Usuário desde: 28/02/2007
Localidade: Suiça
Mensagens: 689
 Re: À janela uvas passas
Gostei mt...:)

beijos da ci