A música estava tão alta, um zum zum zum cheio de latidos, gemiam ao longe as vozes inquietantes e um mar de gente movia-se à minha volta, eu não sabia o que fazer, pé ante pé inventava novos movimentos e deixava-me ir pela serpente de prazer que me envolvia. Sacudi para longe o ser recatado que inventara em mim, quando a realidade nos pertence há em nós a necessidade de recriar o mundo apartir do nosso umbigo e tudo passa a girar em redor dele como se ele ocupasse o mesmo lugar que o sol ocupa no espaço. Deixei que os copos rolassem nas minhas mãos e que se misturasse no meu corpo o suor desinibido de quem procura e encontra. Violei as regras básicas da sociedade triste que nos rodeia e murmurei baixinho entre os goles de alcool que me ardiam na garganta as verdades mais delinquentes que alguém alguma vez ouviu, depois inventei as saídas ou simplesmente deixei que as setas de atalho me conduzissem até elas. Caminhei sem destino rumo a não sei onde e encontrei no altar do bar um barco à deriva e um marinheiro perdido. O meu corpo mexia-se sozinho, movimentos loucos sobre si próprio, a blusa com três botões desapertados fazia antever os seios que se insinuavam loucos, o preto do soutien em contraste com o branco da blusa, as calças justas ao corpo salientavam a minha silhueta. Ninguém parava para me olhar mas dançando ninguém tirava os olhos de mim. O que uma mulher não consegue fazer? Nada! Impressionei todos quantos pude mas despertei desejo num só, o marinheiro solitário abriu caminho por entre a multidão, entornou absinto na minha blusa e começou a lamber o meu peito ao som da música, sem querer chegar demasiado longe afastei-me mas ele seguiu os meus passos, pagou-me uma bebida e encostou-me ao balcão. Na minha cabeça giravam pensamentos tontos, ideias tresloucadas, ao longe o zum zum zum destorcido, a imagem aos meus olhos começava a movimentar-se, pontos fixos já não existiam, tudo me parecia um grande bolo de gelatina. Bebi tudo até ao fim.
. façam de conta que eu não estive cá .