Um poema de Miqué Di L'Atrólloggus
Quando ainda era peixe pequeno,
um dia deixou que as escamas
brilhassem ao luar mais ameno,
aproveitando o descuido do duende.
Foi flagrado olhando de relance
os seios flácidos da lua já matrona,
mas não havia grades nas varandas
nem nas beiras dos abismos recende,
odor de rosas rubras e rouxinóis suicidas,
saturando petas e poemas no ar.
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...
[Podem
não
acreditar,
mas
estarei
feliz
apenas
por poder
ver
outra manhã
ensolarada]
...
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Brandindo ferozes longos báculos,
vão todos já que os arquitetos cegos
diuturnamente inflando os egos,
não projetam casas para um avestruz,
nem gradis de varandas em pináculos,
que poderiam ser ocupadas
pelos jovens de moletom e capuz,
pois não há edifícios altos flutuantes
no fundo das ravinas verdejantes.
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Se caminhar
pela rua
deserta
na noite
do nevoeiro,
poderá reprimir
alguns desejos,
já que a outros
desperta;
e acalentar
doces enganos,
num alongamento
dos músculos,
pedindo palmas
para as sopranos
com a impressão
de ter visto
polichinelos mancos
e um pierrô
vigiando
o fantasma da varanda
decorada inteira
em art déco.
...
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Ruas encravadas nas encostas
seriam intransitáveis,
paralelas ou mesmo justapostas,
difícil discernir se acontece
em sonhos ou realidade,
o que a parca do destino tece
alternando em sonhos precoces
a obviedade já pré-existente,
não há ficção crível senão
a partir do senso de não ficção ...