ENCHENTE DAS GOIABAS
I
Março me chega inclemente
Com sol de queimar a testa.
Maritacas fazem festa
Nos pés da fruta indolente
Que bicho de goiaba infesta.
II
E, no chão, goiabas a rodo
Fermentam a exalar forte
Um cheiro intenso de morte,
Que faz lembrar a seu modo
Dos homens a sina e a sorte:
III
Meninos trepam no pé
Diante do adulto saudoso
Do fruto mais saboroso
Que só se come na fé
De errar o bicho danoso.
IV
Mas negro véu de viúva,
A tarde logo escurece.
Grande mostrengo parece
Aquela nuvem de chuva
Que o dia cedo anoitece.
V
Despencam do céu as águas
Que levam pela enxurrada
Goiabas caídas na estrada,
Deixando nódoas e mágoas
No peito da meninada.
Betim - 05 03 2016
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.