Com a faca dos sentidos
faço um buraco no tempo
e dos sonhos esquecidos
nasce a dor do pensamento.
Há tantos corpos fechados
acrisolados no medo
tantos homens desterrados
por guardarem segredos.
Há tantos olhos de pedra
chorando lágrimas de cal
num silencio quem dera
fossem lágrimas de Portugal.
Há gente morrendo ao frio
com tantas facas por dentro
e alguém se atira ao rio
por viver no esquecimento.
Minha faca já não rasga
a raiz da solidão
a vontade já está gasta
e até eu já sou em vão.
Como silêncio que se aborta
há um tormento na voz
há uma faca que corta
e nos separa de nós.
Ricardo Maria Louro
Ricardo Maria Louro