A minha casa é onde o espírito mora.
Onde arrumo os meus hábitos e organizo momentos.
A fortaleza sem paredes onde me sinto segura.
As almofadas onde a tormenta descança.
Perfumes e recordações.
São livros e objectos pequenos.
A música de que mais gosto, e o lento passar do tempo.
Não tenho laços nem raízes.
Nem cidade nem país.
Habito as palavras e os sonhos onde me sinto tranquila.
É uma janela aberta a um horizonte qualquer
onde adormeço para sonhar,
onde morri tantas vezes para nascer todos os dias.
Não tem divisões demarcadas.
A minha casa etérea, é transparente e maleavel.
Dissolve-se,transfigura-se,desfaz-se.
Dura um segundo e evapora.
Permanece em mim para sempre, como uma cicatriz,ou um instante esquecido de um momento que passou.
A minha casa é o que invento.
É onde me reinvento.
É toda espelhos e luz, mesmo na sombra.
Mesmo que chova.
Mesmo que a humidade torne o ar pesado.
Mesmo que o sol lhe passe ao lado.
Uma estrada lamacenta, relembra o exílio.
Espaço intermédio, ou rampa de lançamento.<br />Uma casa de lego que encho de bonecas.
Onde não cabem mais bonecas, nem conchas, nem silêncios.
É onde as máscaras se quebram, e as cortinas voam soltas - são lenços de praia filtrando a luz da manhã.
São dias iguais, ou dias cinzentos.
São vozes que me pertencem e velas de baunilha.
Caixas de pequenos nadas,catalogadas por cores.
Padrões rasgados,de tão gastos.
Um velho pano do chão.
É um palácio de princesas, onde falta quase tudo.
Minha casa reciclada.
Veio uma onda brilhante,...
e tudo desapareceu.
Inês S.