Nos silêncios ruidosos da noite, Prostro-me na inquietude vivaz Da insónia que me castra o sono. Desfilam castros de recordações Que teimam ser a maldição crua De lágrimas estéreis já vertidas.
Tento adormecer o sono negado, Afastar os pesadelos que persistem, Negar os sonhos que me cercam De emoções, sentimentos e razões. Tento libertar-me das vis vivências, Remetê-las à urna do esquecimento, Cortar pela raiz deleitosos suspiros, Imolá-los na pira fúnebre da negação.
Se a saudade se prolonga na ausência De um amor vivenciado pela eternidade, Que demência me sonegou os tormentos Da solidão, do desespero, da raiva, da dor? Não! Nenhuma patologia me entorpece, Só a certeza que esta saudade não existe.
Adormeço enfim; não são mais que resquícios De uma década atribulada de ilusões fugazes, Tentando afirmar-se com direitos concúbitos, Ou a posse voraz do meu ser em desordem. Rogo à alvorada que não me acorde mais, Ao dia que decorra pejado de mil tarefas; Para a noite não ter nem saudade, nem dor.