Meio à aragem, na voz frágil chega agora,
uma canção como aquelas de outrora,
quando do céu descias ante meu olhar desperto,
como gaivota pairando na brisa,
afastando-te da praia para mar aberto.
Ouço as próprias palavras soando tão longe,
não encontrando respaldo em ouvidos afáveis.
Querem elas encontrar abrigo benévolo,
como a exaltar o sentimento que tentam levar
escalando paredes nuas da indiferença,
perdendo-se em escuros covis,
deixando-me a avizinhar da tristeza,
sem saber dizer o que sinto quando foges de mim,
só uma parcela da luz desse teu verde olhar,
a aura de teu corpo e essa imagem que tanto amei.
Uma canção como aquelas de outrora,
pois foste a âncora, o porto seguro onde fundeada,
a nau das minhas desventuras tudo se anuviava,
sem ter que chorar a tristeza de ver estrelas escondidas,
nem saber por quanto tempo esta noite escura iria perdurar.
Meio à aragem, na voz frágil que chega agora,
então venhas e dize-me que posso gritar ao infinito,
trazer de volta as gaivotas ao redor do mastro do veleiro,
e do alto olhar e ver-te voltando para mim,
sem perguntas, sem explicações nem questionamentos,
apenas outra vez entrando em minha vida,
meio à aragem, na voz frágil chega agora.
Rogo que o amanhecer me envie como mensagem,
borboletas voando sobre o jardim repleto de flores,
e a imagem de teu rosto sorrindo outra vez,
afastando o rigor da noite fria com tua presença,
minha linda, eternamente, para sempre,
e mais um pouco ainda além,
inesquecível ausência em meu triste viver,
meio à aragem, na voz frágil quando chega agora,
numa canção alegre, como aquelas de outrora.
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.