Amo uma garota de seios precoces,
que trabalha numa padaria do centro.
Ganha pouco para o próprio sustento,
e depois de vender pães e doces,
vai até uma birosca comer sushis.
Caminha pelas ruas entre os travestis,
que têm as nádegas e seios de fora,
até chegar no apartamento onde mora,
com uma amiga lésbica e drogada,
para dividir o aluguel e o condomínio,
fazer a faxina já que é empregada,
de uma madame na zona do lenocínio.
Minha garota queria usar salto alto,
conhecer o mundo e ser modelo
mas foi atropelada numa rua sem asfalto
e ficou aleijada do braço e do cotovelo;
tem uma perna que arrasta quando caminha,
por isso sofre e de madrugada chora sozinha.
Ao domingos sempre visita o cemitério,
levando flores ao tumulo dos avós,
me dá beijos sem nenhum critério,
gemendo muito quando estamos a sós.
Deixa que o sol queime o rosto marcado
por uma fisgada com o espeto de frangos,
depois passeamos pelo supermercado,
e pelo Som de Cristal onde dançamos tangos.
Minha garota é inteligente e bonita
e se enfeita quando sai para me ver
nos cabelos coloca um laço de fita
e sorridente desfolha o vetiver.
É bom amar uma garota otimista,
sempre sorridente parece artista.
Sempre em paz transpira felicidade,
mesmo quando falta o pão na cidade,
e formam-se longas fila no balcão,
à procura de sonhos de baunilha
que vai retirando de uma vasilha,
dando a cada um o justo quinhão;
sorrindo dá sonhos aos fregueses,
mesmo sem contar que muitas vezes,
um engraçadinho quer ser mais tinoco,
não pagar e ainda querer o troco.