Quando começa um combate
as musas se calam.
Em tempo de guerra,
todas as vozes silenciam,
submetidas à toada que brota
dos canos das kalashnikov,
musas entopem os ouvidos com cera
diante do fragor dos canhões.
Nos campos
os corpos apodrecendo na lama
enojam as musas em silêncio;
somente a chuva anuvia e dilui
o sangue jorrando,
fluindo das veias dilaceradas.
Mas quando é preciso lutar,
mais uma vez o sangue
vai brotar dos peitos abertos;
outra vez os fragores da guerra
trarão lamentações e lágrimas.
Mães e esposas irão verter lágrimas
milhares de órfãos percorrerão
as ruas abandonadas em escombros
a procura de uma mão amiga.
As musas irão tremer
diante do som dos canhões,
a necessidade da inspiração
ira ceder à vergonha nua
de matar em nome de uma justiça
que obedece à lei dos mais fortes.
Musas enfurecidas silenciaram,
abandonando as brisas das tardes amenas,
fugiram do cheiro da morte nos combates,
sabem que o vento da desolação
somente irá inspirar versos bastardos.
05032016