Que dure mais a sua tarde.
Entardeça-se.
Prolongue-se.
Que sua noite seja feliz e longa.
Anoiteça-se.
Amanheça-se.
Que seu poema seja o mais belo.
Poeme-se.
Declame-se.
Se sua tarde está insólita e fria.
Invente-se.
Esquente-se.
Final da estrada nada sobrou.
Conte-se.
Inclua-se.
O ponto, a ponta aponta.
Desponta-se.
Pinte-se.
O broto, a flor aflora.
Aflora-se.
Brota-se.
O torto, o certo acerta.
Acerta-se.
Remende-se.
A essência, o bêbado bebe
Embriaga-se.
Engarrafa-se.
Quebra seu copo, seu corpo, junta suas tralhas e seus cacos,
Como quebraram este poema.
Chega rápido: não tenha pressa, venha como o vento,
Cortando volta nas montanhas, como nuvens fugindo dos vales
Venha como a lua rasgando o céu, recolha-se em um bago de trigo
Traga na testa o pó da viagem
Chegue cedo como manhãs e canções que não saem da gente.
Traga no ouvido a saudade do último grito de mãe, o gosto do primeiro beijo
E o calor do primeiro abraço, coisas do primeiro amor, coisas sem filosofia, Coisas da vida. Coisas da gente. Um abraço pro sogro. Um drinque pra vida.
José Veríssimo