Porque o céu é lá em cima e o inferno é lá em baixo?
Será que tudo o que é bom levanta a alma
o que é mau até os ombros fazem descair
ou estaremos enganados e tudo o que é lá em baixo
é celestial, divinal, abençoado, apetecível?
Depende do ponto de vista afinal
até porque há em cima taças de vinho quente,
fontes de desejo que só se mata com um beijo
Estará o céu virado de frente
o inferno será o que é escondido, traseiras,
ou será o contrário, o melhor está guardado
como o vintage vinho do Porto
e na montra o vulgar vinho corrente
que nem sabor tem?
Sei que ninguém quer ir parar ao inferno
seja ele onde for ou estiver
ansiando conquistar o céu
mesmo que este esteja a arder
É esta a minha dúvida
nessas nuances que me provocas
querendo-me felino feroz ativo
oura vez felino gato de rom rom
Aí me confundo não sabendo qual o caminho
se para cima , se para baixo,
se de pé, se deitado, se ajoelhado
e fazes de mim um eterno indeciso
que nem avança nem recua,
se entra pela porta se pelo quintal
Atiças o meu dia,
provocas as minhas noites
acendes o fogo na madrugada
acordas-me labareda alta pela manhã
Sei que não sabendo se o céu é em cima ou é em baixo
em ti consigo descortiná-los separados
mas se nenhum existe sem o outro
não há céu nem pecados
Viver é uma bênção
logo, em ti eu rezo
obra de arte de Deus
e só pode ser abençoada
essa minha oração
porque vinda do céu
no inferno não pode ser orada
Afinal quem és tu?
Oração vinda do céu
ou praga rogada do inferno?
Pareces anjo de asas de plumas brancas
outras vezes vens sem elas, descoberta
e fico na constante dúvida
se caminho para cima , se para baixo,
não sabendo a direção certa
Indubitavelmente
irei abrir-te os meus braços
se fores de baixo erguer-te-ei,
se vieres de cima acalmar-te-ei
sabendo que o céu em ti criarei
cintilando o meu fogo em estrelas
ou o frio que gelarei
dizendo-te depois o que encontrei:
se um anjo do céu
se labareda pecado que apagarei
Mas sentirás em mim e de mim
esses dois domínios certamente
porque procurarei até ao fim
ao que vens e porque vens
acordar-me silenciosamente
Delfim Peixoto © ®