Poemas : 

A Lágrima

 

A Lágrima


Brota sempre do coração
Ganha forma caprichada
Solta-se abrasiva em golfada
Obviamente a da paixão

Escorre acrimoniosa
Trémula e pungente
Vem ferida da mente
Tão só a da tristeza

Estira-se como a onda do mar
Avança deslizando pelo ar
Despuma-se em condoimento
Sem dúvida a do enternecimento

Provem de glaciar
Teima em supliciar
Perde-se-lhe o norte
É claro a da morte


Apesar de estacional
E aferrada à efemeridade
Derrama-se emocional
É mesmo a da saudade

Irrompe saltitante
Pode ser esfusiante
Passageira na euforia
Justamente a d’alegria

Qual rápido em riacho
Corre sempre em exagero
Vira mesmo berbicacho
É a tal do desespero

Espontânea e cristalina
Esfuma-se na pitança
De um carinho supina
Exclusiva a da criança


Jorra impetuosa e salgada
Incontida em lamaceira
Mantem-se destemperada
Com certeza a da cegueira


Mareja-nos os olhos
Invade os sentidos
Mostra-nos o castelo
Efetivamente a do belo


Germina afrontosa
Ferve muita rabiça
Borbulha penosa
Falamos a da injustiça

Desponta lamuriosa
Umas vezes furiosa
Outras mui biliosa
Trata-se da dolorosa


Solta-se envergonhada
Escondida na injusteza
Aninha-se envergonhada
Por certo a da pobreza

Eflui e congela
Fixa-se na remela
Subsiste mordente
Com efeito a impotente

Desperta medrosa
Escapa silenciosa
Traça sulco na face
Temendo o desenlace

Goteja então caudalosa
Mesmo algo nebulosa
Mas logo um esplendor
Logra fulgor. A do amor


JP


 
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jopinas
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