A Lágrima
Brota sempre do coração
Ganha forma caprichada
Solta-se abrasiva em golfada
Obviamente a da paixão
Escorre acrimoniosa
Trémula e pungente
Vem ferida da mente
Tão só a da tristeza
Estira-se como a onda do mar
Avança deslizando pelo ar
Despuma-se em condoimento
Sem dúvida a do enternecimento
Provem de glaciar
Teima em supliciar
Perde-se-lhe o norte
É claro a da morte
Apesar de estacional
E aferrada à efemeridade
Derrama-se emocional
É mesmo a da saudade
Irrompe saltitante
Pode ser esfusiante
Passageira na euforia
Justamente a d’alegria
Qual rápido em riacho
Corre sempre em exagero
Vira mesmo berbicacho
É a tal do desespero
Espontânea e cristalina
Esfuma-se na pitança
De um carinho supina
Exclusiva a da criança
Jorra impetuosa e salgada
Incontida em lamaceira
Mantem-se destemperada
Com certeza a da cegueira
Mareja-nos os olhos
Invade os sentidos
Mostra-nos o castelo
Efetivamente a do belo
Germina afrontosa
Ferve muita rabiça
Borbulha penosa
Falamos a da injustiça
Desponta lamuriosa
Umas vezes furiosa
Outras mui biliosa
Trata-se da dolorosa
Solta-se envergonhada
Escondida na injusteza
Aninha-se envergonhada
Por certo a da pobreza
Eflui e congela
Fixa-se na remela
Subsiste mordente
Com efeito a impotente
Desperta medrosa
Escapa silenciosa
Traça sulco na face
Temendo o desenlace
Goteja então caudalosa
Mesmo algo nebulosa
Mas logo um esplendor
Logra fulgor. A do amor
JP