DEZESSETE DE FEVEREIRO
Tenho para mim que a melhor coisa que posso fazer após
um dia longo de calor e suor
é tocar moto por uns vinte quilômetros
até um vilarejo assim d'umas mil almas: Lugar pequeno.
Entrar no boteco da rua e tomar uma.
Más maneiras as minhas? Sei lá...
Conheci deste jeito patrimônios que não constam nos mapas...
Garimpos... Roças... Acampamentos de trecho...
Viver no trecho, como diz o outro,
é dormir mal, comer mal, passar mal...
Mas, de noite, ver as estrelas!
Ouvir o cricrilar dos grilos e o coaxar dos sapos.
Sonhar Eldorados mais os beijos duma morena.
Onde zoar forros, lundus e sambas
Puro desassossego de morituros a ignorar fadigas mais os extremos dos trópicos: Calor, humidade, mosquitos, febres...
Eu não careço d'uma cama limpa para morrer.
Mas necessito desesperadamente trocar olhares e ideias com a moça do lugar. Que, se não for metida a besta, saberá me conduzir...
Eu sou homem, caralhos! Sou humano!!!
Eu quero o que a noite morna naquela paragem perdida me sugere: Ela!
Seu corpo é um jardim de delícias onde cheiro jasmins e alfazemas!
Sua pele é macia e se ressente de minha barba, de meus calos. Sem embargo, me aceita o toque áspero como se a virasse ao avesso.
Seus olhos têm o brilho da brasa da fogueira faiscando e olham fundo, dentro de mim, revirando meus segredos e prazeres.
Seus seios têm a densidade exacta que me alimenta os sonhos.
Sua nuca se arrepia toda só de lhe respirar o cheiro que se sabe.
Tudo tem seu prazo...
A desoras, dormir o sono dos justos ou, ao menos, o dos justificados.
Dia seguinte, é seguir tensionando as pestanas por afastar os maus recordos.
Quero nada não. Para quê?!
Vou morrer mesmo. Eu e todo mundo.
Mas, ao menos, um anoitecer na grota é de lei!
Betim – 2016
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.