Contos : 

Na sala de espera

 
As únicas cores vivas provinham das flores artificiais empoeiradas em cima do balcão, do extintor de incêndio ao lado dele e da tela da tv pendurada em uma fina parede que sambava na lateral do consultório. Uma programação pitoresca entretinha aos que esperavam, aparentemente pacientes. Jaleco branco, placas de numeração nas portas de compensado e AVISOS: "Desligue o celular", "Silêncio!". Acho que o único som permitido no local era o da televisão. Havia uma pilastra no meio da sala, entre as seis fileiras de cadeiras pretas com encosto macio e cheiro de mofo. Seis cadeiras preenchiam cada fileira. Cabiam trinta e seis pessoas sentadas dentro daquele cubículo com pouca luz de aproximadamente cinco metros quadrados. Trinta e sete, na verdade. A enfermeira antipática com sobrancelha postiça estava sentada, atrás do balcão. Apenas quatro pessoas ocupavam aqueles bancos além de mim, que esperava pela minha vez no fundo da sala. Não me recordo de suas faces. Dos outros pacientes, me refiro. Mas de costas pareciam tão entediantes quanto tudo o que havia naquele lugar. O ar era denso e o calor era catastrófico. Os dois ar condicionados que avistei pareciam não funcionar, trivialmente. Percebi uma balança ergométrica no canto da sala. Medi o peso do meu corpo após retirar os sapatos e quatro balas de iogurte do bolso. Pesava cinquenta e cinco quilos. Quase chorei.
A doutora esgoelou o primeiro nome.
— Miguel Arcanjo!
Um galego alto calçando botas de cowboy caminhou lentamente em direção à porta com a placa 03. Minha paciência parecia diminuir a cada passo lerdo que ele dava. Cerca de vinte minutos. Era o tempo médio que cada paciente demorava dentro da cabine médica, segundo a enfermeira. Vinte longos minutos de espera. Não me lembrava da ordem de chegada dos outros coitados. Nem sequer da minha. O fato é que eu imaginava ser o terceiro ou o quarto. Menos o último. Contudo, esperava ser o segundo.
De volta ao meu assento, observei que um mural pendurado na parede listava as especialidades médicas que aquele consultório dispunha. Uma delas, intitulada como "ANGIOLOGIA", chamou a minha atenção. Eu não fazia ideia do que se tratava. Nunca tinha ouvido falar naquele nome esquisito. Comecei a especular sobre seu significado, mas a palavra ANJO não saía da minha cabeça. Mas que diabos! Como seria possível? A grafia de ANGIO é com G e a de ANJO é com J. Aliás, não havia nenhuma parte do corpo humano com nome de anjo que eu soubesse. Antes que eu pudesse chegar a qualquer conclusão, pensei ter ouvido a doutora chamar o meu nome. Levantei às pressas, meio cético e fui confirmar. Sim, era a minha vez. Graças aos ANGIOS!


Joe.

 
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JoeWeirdo
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