Num breve instante do tempo
faço meu apelo à vida
reclamando aos tentáculos
da madrugada que me devolvam
o perfume decantado na eira
dos teus sonhos onde quase me esfacelo
regalando-me inteiro num acto concludente
de amor que sem rodeios interpelo
- Inundamos o corpo fervendo
de desejos
com ondas marejadas de ternura
rasando
o leito onde pernoitamos sequiosos
pelos teus adoçicados e apetitosos gracejos
- Faz-te ao recanto de mim
conchega-te entre a minha solidão
clamando na intempérie dos ventos
até que cada pingo de chuva adormeça
na escravidão afoita dos tempos
Abre-me todos os incansáveis caminhos
memorizando as pedras da calçada
onde atapetamos o silêncio
andando no pronúncio do mesmo destino
- Ontem acordei abraçado aos beirais
do teu sorriso
sentindo o desenlaçar quieto dos
beijos onde deslizo meu tacto
consumindo-te a preceito
Agarrando-me à tua pele
tatuando este poema
breve e passageiro
- Desalinhámos o dia
abrindo as cortinas à noite que foge
temperando o noivado da lua
em gomos de luz indelével e vadia
Sintonizámos todos os momentos
da nossa existência
inspirando cada trago de poesia
acantonada à tua essência
caiando meu poema esquecido
entre as peripécias coloridas
de um rabisco errante fenecendo
pelas margens desta tórrida
alegria
desembocando entre
a vagueza de um súbtil lamento
e a nossa cumplicidade
tacitamente comprometida
FC