deitou sem acender a luz, sem esconder os olhos, sem conseguir pensar direito. dentro do peito apenas medo e uma fé estranha e curta, apenas a certeza de que tudo poderia romper e ficar tão pior, tão intensamente absurdo e insano. pensou nos remédios, nos surtos, nos intrigantes momentos de felicidade, mas aquilo também era tortura, tontura e devoção.
não perguntou mais nada a Deus. aceitou tudo e pronto. aceitou e seguiu em frente com raiva, se escondendo da vida porque a vida ria dela, fazendo bullying desavergonhadamente, ditando novos infames rótulos. resistiu como pode até cair para alto, até chegar no final da linha que costurava a alma ao coração. quando não pode mais, cedeu, abriu as mãos, mostrando as marcas e foi então que finalmente entendeu que ela ainda era gente, era força, era uma lágrima acesa.
karla bardanza