Noite sombria aquela de quinta-fêra em Mariana nas Minas Gerais. Em ninhuma banda ouviu sinále de sirene. Não, não, a sirene num tocô; os moradô de Bento Rudrigui ninguém avisô. E o sufoco do Sêo Tatu naquela noite sombria!Havia drumido o dia todo, intocado, e de nada sabia. Ao sair tomô a triazinha e desceu rumo ao rio doce como sempre fazia todos os dias. Pra sua surpresa, condefé, topô cum bicho priguiça numa galopêra doida e a tartaruga na cola, pregado, querenopassar pur ele de todo geito morro arriba.
Istranhô munto tudo aquilo. Oiô patráis isfregano os- zói, ainda sonolento, e siguiu admirado balangano a cabeça. Mais a frente, no trio apertado, onde cabia mále mále UM vinha vino uma paca trombano uma anta pesada que, dususperadas percurava subir pras partes mais artas; lingua de fora, passô tamém pelo tatu ca- rispiração ofegante - sem nada cunsiguí falá.
O tatu ao diminuir a tuada iscuitô rumores duma discussão. Sem intendê duqui tratava a barburia foi ino na tria, ladêra abaxo, inté qui iscuitô arguém falá seu nome... aí percupô. Parô, coçô o fucin e logo dipois tratô de continuá desceno o iscambaduzin. Afinále de conta num havia fumaça ó carquér vistígio de fogo, nem chuva. Na verldade, há mais de mêis nem relampiava.
No antigo brejão a confusão feita. Uma briga generalizada entre arguns animále chamô mais sua atenção. Parô pruditrais dum tôco e de lá ficô oiano.
O macaco bravo, arripiado, sartava dum canto n'ôtro e insistia na acusação: qui qui qui qui... Isso é cuirpa do tatu que anda furano pra todo lado.
Já a raposa, a jaguatirica, o tamanduá-bandêra e o gato do mato defendia, dizeno: O tatu não, isso é coisa de gente, e de gente grande! A cobra, o sapo e o jacaré antão indagaro: Mais cadê o tatu qui inté agora num apareceu? Im -meio aos falatórios, ataques e ofensas desce o Sêo Tatu e vai passano de finin, inucente, rumo ao rio pra beber da água doce.
A coruja vê premêro e grita: manhã eu vô, manhã eu vô... Óia, é o tatu! On' sinhô vai Sêo tatu? - Prigunta. O tatu de cabeça baxa, boca amarga de raízes, com sede, respondeu seco: bebê água, uai!O cuêi isperto, adiantano, passô na sua frente e falô:Ocê num tá sabeno, Sêo tatu?
O rio doce acabô...e digo mais:muntos amigos, de várias ispécie, a SAMARCO tragô. Não tem vida.
Num tem água. Os pêxe a lama matô; nem as capivaras iscapô. Inté gente, gente pequena...os degetos arrastô.Arguns pôcos, dususperados, tão tentano argum lugá siguro pra rifugiá; pruque já tão anunciano, Sêo tatu, qui coisas monstruosas, ainda maió, se ninguém nada fazer, breve breve vai acontecê.
- O Sêo tatu, triste, tomano a palavra, subiu num cupim e a todos tentava consolar, dizeno: O ser humano num é digno de cunfiança, nunca foi. CUNFIAR é um passo pra decepção.Nóis não devemos brigar, num adianta! Nada... nada disso podemos mudar. O que nos resta! - Lamento?Lamentá?Nãoooo, não...Vamos subir, virar a montanha, do lado de lá, quem sabe ainda achamos água boa, limpa, pra nossa sede matar.