Sentado num vão de escada oiço músicas que ninguém quer.
Os ritmos e harmonias do mundo ocultam as misérias e os corpos abanam-se em frenesim.
Ergo muralhas á minha volta e danço sózinho.
Todos estão comigo e não estou com ninguém.
Tento vazar-me de mim mas sou muito mais que aquilo que julgo ser e depressa me encho ainda mais.
Tampões nos ouvidos, miopia, hepatite, dores nas costas e aì vou eu! Ainda assim sendo muito mais que o auto-desejado.
Os ursos falam e as suas palavras são água fresca.
As capas dos livros conta-me estórias que não foram escritas. Os teus olhos dizem-me aquilo que tu ainda não descobriste.
Toldo o espírito mas a Luz brilha mais forte.Em breve tudo vai passar e os buracos no toldo são provas da sua ineficácia.
Aumento o volume, cerro as cortinas e penso em como seria ser cego...
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.
Re: Cego
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