Olhas-me assim, como quem lê um livro
questionando cada palavra, cada frase,
quem sabe se cada estrofe ou verso,
bebendo o que te olho como tu fosses partitura
em que leio cada nota, cada, ritmo, cada compasso
questionando cada frase, modulação, ou suspensão
Nessa dúbia certeza de encontramos a resposta
permanecemos algum tempo, tentando entrar no outro
querendo alcançar as almas e o bater do coração
num silêncio gritante, que nenhum poema ou melodia expressa
E chego-me a ti como pluma que cai devagar
deitando nos teus lábios os meus que te saboreiam
sentindo esse sabor a morango e água fresca
que me sacia a sede de te gritar nesse beijo
o que queres ler no meu olhar
Ternamente deixas-me aportar assim em ti,
lendo-me como fosse livro escrito em Braille
rodando a tua boca como se eu fosse uma cereja
nêspera ou romã que gostas de morder de manhã
Sinto no teu peito a pulsação do teu ritmo,
na tua respiração a melodia do teu coração
sabendo que em mim sentes esse poema
que lês palavra a palavra, verso a verso,
frase a frase, estrofe a estrofe
Nesse abraço incontido
sabemos que és a minha música,
que és a letra da canção que compomos
que os nossos corações batem na mesma pulsação,
nas almas encontramos esse tanto que buscamos
Curiosamente, nesse silêncio
sentimos no corpo as vibrações qual harpa a soar
e sabemos que não necessitamos de perguntar
sequer precisamos de responder
o que os nossos olhos querem saber
Assim, nos deleitamos
nessa entrega mútua nos amamos
sabendo que o poema é de amor
e a melodia é uma sonata que tocamos
Delfim Peixoto © ®