ROMILDO, O LOUCO DO CEMITÉRIO
Romildo era um rapaz muito estranho. Ele era magro, alto e tinha um olhar sem brilho. Gostava muito de acompanhar funerais, o que era muito estranho, para um jovem de 20 anos.
Ele saía todas as noites .Sua mãe, Dona Salete, dizia para todos que seu filho saia toda noite para trabalhar de guarda-noturno . Mas o que as pessoas não sabiam era que aquele rapaz era um ladrão de túmulos.
Algumas pessoas já falavam que tinham visto o rapaz nas imediações de um cemitério da cidade. E chegaram a se perguntar o que aquele moço fazia à noite próximo a um cemitério. Alguns curiosos chegaram a perguntar ao próprio rapaz , mas ele ria e não respondia.
Uma noite um homem que morava próximo a casa do rapaz resolveu segui-lo . Foi então que ele viu Romildo entrar no cemitério da cidade. Todavia o homem não teve coragem de entrar naquele lugar.
Pensou em esperar para ver quando o moço voltaria, mas acabou desistindo e foi embora .
No outro dia o senhor resolveu interrogar o rapaz sobre o que vira na noite anterior . Ele disse que o homem havia se enganado , não era ele, talvez fosse alguém parecido com ele.
Naquela noite Romildo tinha violado dois túmulos e tinha roubado objetos valiosos dos mesmos. Esse era o verdadeiro ofício daquele rapaz de olhar misterioso, que gostava tanto de funerais.
Um dia saiu no jornal a morte de uma moça de 16 anos . Ela era muito rica , talvez a mais rica da cidade. Romildo resolveu que iria ao cemitério esperar a moça ser enterrada , e, evidentemente, iria violar o túmulo da família.
Romildo observou bem o túmulo . À noite , depois que os portões do cemitério se fecharam, lá estava ele, disposto a violar um ou mais túmulos. Não teve dificuldade em encontrar o lugar onde a moça havia sido sepultada, já que sabia andar naquele lugar até mesmo no escuro.
Abriu o portão do túmulo e viu vários quadros nas paredes . Numa mesinha estava uma fotografia de uma moça muito linda. Ele observou que ao lado do quadro estava um rosário . Romildo pegou alguns objetos valiosos e resolveu levar também aquele rosário .
Mal ele saiu do cemitério percebeu que estava sendo seguido. Olhou para trás mas não viu ninguém . Quanto mais ele caminhava mais sentia a presença de uma pessoa ao seu lado. Quis correr mais suas pernas pareciam chumbo. Até que finalmente ele chegou em casa e guardou todo roubo em seu guarda-roupa, menos o rosário, tinha guardado o objeto em seu bolso da calça. Nem lembrou daquele rosário de contas brilhantes.
Romildo tomou banho e se deitou em sua cama. Tentou dormir mas o rosto da moça estava visível em sua mente. Deu um cochilo e viu uma figura estranha sentada em sua cama. Abriu os olhos mas não viu ninguém. Mais uma vez ele pensou na moça do retrato . Teve um arrepio e se enrolou . Amanheceu o dia e Romildo não dormiu nada.
O rapaz resolveu dar um tempo nas violações de túmulos e nas visitas aos cemitérios, pois estava atormentado com as visões daquela moça . Viajou para outra cidade e levou os objetos roubados para serem negociados. Mas não lembrou do rosário . O mesmo estava ainda no bolso da calça de Romildo. Todos os objetos foram negociados, menos aquele rosário . O rapaz o roubara porque achava que era valioso, mas esquecera dele.
De volta para casa o rapaz sofreu um acidente e foi levado ao hospital, mas não foi muito grave e logo foi para sua casa. Todavia perdera o dinheiro da venda no acidente.
Já em sua residência, Romildo lembrou novamente daquela moça da fotografia . A partir daí todas as noites ele sonhava com ela ao seu lado. Ela estava com um olhar zangado, mas nada falava.
Romildo estava ficando sem paciência . Não suportava mais o olhar de sua companhia noturna. Um dia ele abriu os olhos e viu a jovem com o rosto quase em cima do seu. O rapaz deu um pulo da cama e ela desapareceu de repente. A partir desse dia o rapaz nem dormia de dia nem de noite. Sua mãe dizia que ele estava muito doente, que iria levá-lo ao médico.
Foi aí que o rapaz passou a usar remédio para dormir, mas ele tinha medo de dormir. Pois todas as vezes que dormia via a moça do retrato muito zangada com ele. Romildo então resolveu acaba com o desespero dele. Resolveu enfrentar sua loucura. Quando a moça apareceu outra vez ele lhe perguntou o que queria. Ela nada disse , só olhou na direção da gaveta do armário. Ele não entendeu e ela apontou para a gaveta. O rapaz se levantou e abriu a gaveta. Para seu espanto havia um rosário de contas luminosas . Ele então entendeu tudo. O rosário era daquela jovem.
Romildo criou coragem e foi ao cemitério, mesmo não estando muito bem de saúde. Entrou sem dificuldade, como sempre fazia. A moça estava ao seu lado. Ele percebia o seu olhar, agora mais suave. Quando o jovem ladrão chegou no túmulo percebeu que estava com um reforço maior. Mas como era mestre em abrir cadeados , não teve muita dificuldade. Entrou no túmulo e colocou o rosário no mesmo lugar onde estava . Ao sair percebeu a presença da garota lhe acompanhando até o portão do cemitério. Ele tremia mas nada falava. Quando chegou no portão Romildo sentiu que braços gelados lhe abraçavam. Viu então a moça com o rosto bem próximo ao seu.
No outro dia encontraram o rapaz desacordado na porta do cemitério com um retrato nas mãos.
Desse dia em diante Romildo enlouqueceu e só falava na moça da fotografia. Os pais da moça até quiseram denunciar Romildo por roubo, mas como já estavam sofrendo com a morte da filha , resolveram deixar o caso por isso mesmo. Afinal, o rapaz estava louco. E louco não ia para a prisão.
Romildo passou a ser chamado então como o louco do cemitério. E como era louco as pessoas não se admiravam quando o viam caminhar sem rumo dentro do cemitério. Agora pelo dia, já que sua mãe não o deixava sair à noite.
Lucineide
A poesia corre em meu sangue
Como a água corre no rio
Sem ela sou metade de mim
Meu nome é fruto de poesia.
Qualquer semelhança é mera coincidência .