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O FUNERAL

 
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Há muito tempo, numa cidadezinha do interior do Ceará, circulava uma notícia horripilante: era a notícia de que a meia noite transitavam pessoas estranhas carregando um caixão pelas estradas dessa cidade. As pessoas eram tão estranhas quanto a notícia.
Muitos jovens já nem saíam mais depois das dez, por medo de encontrar o funeral. As pessoas que gostavam de ficar nas calçadas até tarde da noite, depois da notícia fechavam suas portas antes desse horário. Era grande a fama do enterro da meia noite.
Um certo dia, um rapaz foi para casa de sua noiva e ficou lá mais do que devia. Ficaram namorando no portão da casa e nem se deram conta do horário. Foi quando o pai da moça interrompendo o namoro, lembrou ao casal de que já era muito tarde. O homem falou para o futuro genro :
_ Renato, meu filho, olhe a hora. Já são onze e meia. É perigoso você andar a essa hora nas estradas . Você não quer dormir aqui hoje? Você sabe que tem o quarto de hóspede. Não faça cerimônia. Amanhã cedo acordo para ir ao sítio e lhe chamo. O que você me diz?
O rapaz era metido a corajoso, cabra macho, como ele mesmo falava . Respondeu ao futuro sogro com voz firme.
_Obrigado, Seu Carlos. Não tenho medo nem de assombração nem de gente viva. Vou indo porque se eu demorar ficará mais tarde ainda. Amanhã cedo preciso ver uns animais . Quero acordar cedo. Além do mais, meus pais vão ficar preocupados se eu não chegar em casa. Fica para outra vez. Em todo caso, obrigado mais uma vez.
Renato se despediu da noiva e do futuro sogro e montou em seu cavalo, um lindo cavalo branco com preto.O rapaz olhou em seu relógio dourado, faltava apenas cinco minutos para as doze . Mas ele nem tinha medo de gente viva nem de gente morta. Por isso nem pensou em nenhuma das duas hipóteses de encontrar com elas. Ele era acostumado a domar os animais de sua pequena fazenda.
Lá foi Renato e seu cavalo pela estrada a fora. Ele morava um pouco distante da casa da moça. Sua casa ficava numa propriedade da zona rural da cidade . Era um local bonito pelo dia, a noite tinha que passar por uma ponte escura. Mas Renato era corajoso, não tinha medo de escuridão.
Bois bem, mal o rapaz e seu cavalo chegaram na ponte estreita, Renato notou que seu cavalo diminuiu o trote e parou. Ele sem saber o que tinha acontecido, falou baixo com seu companheiro de viagem.
_ Vamos amigão, o que aconteceu? Vamos, que já está tarde.
Mas o cavalo não saia do lugar. Parecia que estava amarrado, e balançava a cabeça agitado.
O rapaz fez um carinho no animal e falou:
_ Amigo, seja lá o que você esteja vendo não tenha medo. Vamos passar. Nada irá nos fazer nenhum mal. Vamos, que já estou perdendo minha paciência.
Nesse instante, Renato ouviu passos e olhou a sua frente. Foi então que ele percebeu um grande número de pessoas vindo em sua direção. Seu cavalo trotou com rapidez e passou da ponte. Num segundo Renato e seu cavalo estavam ao lado de uma procissão. As pessoas estavam de capuz escuro, todas de velas acesas. Não dava para ver o rosto de nenhuma. Renato tentou olhar se eram homens ou mulheres, porém a escuridão não permitia que ele enxergasse muita coisa.
Renato se perguntava de onde teriam saído aquelas pessoas. Que procissão era aquela?
Foi então que ele olhou bem e viu algumas pessoas carregando um caixão. O moço se arrepiou dos pés a cabeça. As pessoas que carregavam o caixão pareciam muito cansadas, soltaram o caixão no chão com toda força. O cavalo de Renato se assustou e relinchou muito alto. O animal ficou em duas patas, e Renato teria caído se não fosse tão hábil em montaria. Foi aí que o rapaz percebeu que todos que iam na procissão tinham os olhos cor de fogo. O caixão se abriu e o rapaz pode ver que alguém se remexia dentro dele. Renato não esperou que a pessoa saísse daquele caixão. Arrancou da bainha sua faca, que brilhou na escuridão da noite. Ele colocou a faca na boca do seu cavalo, que ao sentir a lâmina fria disparou como se estivesse numa corrida.
O moço segurou firme nas rédeas de seu cavalo e nem olhou pra trás , só escutou as gargalhadas e os passos que se distanciavam dele. Cavalo e cavaleiro pareciam um só na escuridão, ambos só queriam chegar em casa. E o enterro sumiu, da mesma forma que apareceu, do nada.
Depois dessa noite, Renato sempre que ia para casa de sua noiva voltava antes da meia noite, pois não queria passar por outro susto . Renato tivera uma experiência não muito agradável, e ele não queria passa por ela outra vez.

Lucineide


A poesia corre em meu sangue
Como a água corre no rio
Sem ela sou metade de mim
Meu nome é fruto de poesia.





 
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Lucineide
 
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Enviado por Tópico
João Marino Delize
Publicado: 07/02/2016 13:01  Atualizado: 07/02/2016 13:04
Membro de honra
Usuário desde: 29/01/2008
Localidade: Maringá-
Mensagens: 1976
 Re: O FUNERAL
A notícia mais assombrosa que eu ouvia do sertão do Nordeste nas décadas de 50, 60, 70, 80 e 90 era que metade da criancinhas morriam por desnutrição antes de completar 2 anos de vida. Os país as levavam para as benzedeiras e estas diziam ser o "Mal-do-semioto" quando na verdade era fome mesmo.Histórias de crendices sempre ocorreram no interior do Nordeste, por falta de assuntos reais. O pior é que tem gente ignorante que quer a volta daqueles tempos.