O MAR QUE EU SONHEI
As patas ferozes de um corcel negro
Cavalgado por uma sensual sereia
Feriram as rasas águas
Que deitavam lânguidas na areia
Espalhando sonhos ao vento
De um menino impetuoso
Que sentado à beira da vida
Desfolhava os seus lindos sentimentos
Cada golpe potente era uma ferida
Profunda, na linha do nada
Enquanto o mar impassível espumava
Meus desgostos na noite fria e enluarada
E eu menino ingênuo a sonhar
Perdido na beleza e imensidade viva
Da liquida e voraz tenacidade
Deste eriçado e indômito mar
A eternidade em forma de fênix
Era o mistério que pairava sobre as águas
O silêncio que caminhava à meia noite
Cantava a canção composta pelas mágoas
O luar que despencava do infinito que eu via
Era o branco e imaculado véu
Que banhava de claridade os espectros
E definia as cores da melancolia
E eu menino imprudente
A molhar os pés no sal dos sonhos
Com as calças levantadas aos joelhos
Deixei na alva rastros descalços e tristonhos
E o ginete encantado e noturno
Em seu dorso a sereia dourada e bela
Riscaram o céu na velocidade da luz
E se perderam na abóbada do soturno
Poderia chorar se quisesse, mas eu não quis
Sonhar que o oceano era minha morada
Que este cavalo negro seria o meu veleiro
E a sereia sedutora era minha terna amada.