José Silveira, roubo-lhe um título entre aspas, para traduzir o que senti ao viver seu poema.
Obrigada, e muito.
Você já provou a sensação afiada do desprezo
a lhe cortar a carne, a lhe retalhar a dignidade
onde você, confortavelmente, antes dormia?
Já percebeu o estranho veneno da recusa,
brotando de pórticos desconhecidos,
a lhe arder nas jovens artérias até então ignoradas?
Já sofreu no íntimo,
como se fosse uma pegada forte da mão da morte,
no recanto torácico onde mora o coração,
a agressividade sem nome do desamor,
recompensa infernal ao seu simples desejo de amar?
E a fronte firme em desalinho convertida,
os olhos estreitos de medo e angústia
a lhe pesarem na face atônita, já sentiu?
E uma dor aguda no osso nasal,
Que descreve o trajeto macabro da rejeição
ao lhe travar os pensamentos e lhe embargar a voz,
enquanto você dá praticamente a vida
para não se render a uma mísera lágrima que,
prestes a derrubar o mundo feliz e podre
que você construiu com os seus sonhos,
teima em rolar, indiferente ao seu tormento,
já experimentou?
Presa a esse quadro escrevo estas palavras vermelhas
que emolduram o meu sofrer profundo,
sentindo-me árida e ferida,
dilacerada pela lâmina impiedosa
de quem grita, mudo,
que nunca me amou.
Nas mãos, a perda.
Nos lábios, o fel perene do adeus.
Nos olhos, todo o sangue que me restou.
É isso.