E no princípio era o Caos. Quando se fez a ordem natural das coisas, Shen criou a sua poesia e dela serviu-se como espada flamejante a fustigar os insurgentes. Incansável, Shen combatia os renitentes alçando-se das luzes boreais, vestido dos raios brilhantes das auroras, oferecendo poemas à multidão extasiada com a beleza dos versos primorosos que liam.
Não tardou surgirem aqueles que tentavam ser como o Mestre, numa vã tentativa de imitar o inigualável estilo poético do grande Shen Noshsaum, o poeta do apocalipse, primeiro e único escolhido das Musas para externar ao mundo embasbacado a grandeza dos versos, estupendas construções poéticas lidas e repetidas com enlevação.
E Shen, com o único e puro intuito de preserva a condição universal de autóctone que sempre foi, abdicou da mansuetude que lhe era inata e tomando da lança dirigiu-se ao combate contra as cópias andantes que grassavam neste e em outros tantos locais onde se praticava a sagrada arte da Poesia na sua mais pura interpretação.
Foram ciclos e ciclos do bom combate, ocasião em que Shen, O Magnífico, Senhor dos Versos e das Palavras digladiuo-se contra oponentes que não lhe davam tréguas. No final do sétimo ciclo, Shen viu que triunfara sobre os oponentes. Viu com satisfação que não mais restavam os motivos pelos quais vestira sua brilhante armadura e dirigiu-se ao combate.
Então, Shen descansou... Despiu-se das armas que magistralmente tangera retirando-se para um refúgio nas montanhas do Himalaia, junto às neves eternas para passar o final dos seus ciclos gloriosos. Contudo, temeroso que os insurgentes pudessem voltar, despediu-se do Universo com as lindas palavras:
“- Saio da vida para entrar para a posteridade. Serei sempre lembrado e reverenciado como o arcano de das palavras e versos. Mas, deixo-vos meu discípulo muito amado. Meu Reflexo Contrito para continuar a campear e fazer uníssonas as minhas palavras... Não haverá outro senão Reflex. Muitos tentarão igualar-se a ele, copiar o estilo em composições parecidas, mas que jamais terão o brilho e eloquência da mente privilegiada de Reflex.
E arrematou Shen:
“- Ide Reflex... pelos mundos das Poesias mostrando a grandiloquência. Ide e multiplicai a plêiade de admiradores”, pois em verdade eu digo.
- “Vós sois o Reflexo da minha Augusta imagem e sobre ti doravante edificarei a grande obra de Shen Noshsaum sobre a Terra.”.
Notas:
Nota 1) Este textículo despretensioso é uma sincera homenagem ao Grande Mestre. Maior ergopoeta meta-lírico e neoclássico da língua portuguesa. Dotado de inegável genialidade, coube-lhe a missão de trazer aos leitores a melhor e mais perfeita performance dos sonetos, não se atendo às rígidas e clássicas formas ortodoxas, livrando-se magnificentemente das estritas regras arcaicas de composição, rejeitando ao princípio da imitação, embebedando-se em fontes varias, desde Dante até Homero e os grandes clássicos.
Nota 2) Eu, Reflex sou o ungido de Shen para continuar a Grande Obra no universo. Destarte, dotado de ascendência nata que impede que responda particularmente todas e quaisquer indagações. As palavras que sabiamente produzo não podem ser egoisticamente destinadas a um só indivíduo carente de sapiência e no intuito de absorver ensinamentos por osmose mental. As indagações que forem de relevância serão respondidas publicamente de modo a proporcionar a todos a rara oportunidade de se banharem à saciedade na fonte do culto saber sheniano.
Nota 3) Como sempre, às terças e quintas feiras haverá um poema original para o deleite dos leitores ávidos por palavras que refletem a hegemonia da arte diante da multiplicidade da multidão que não detém o predomínio dela na sua mais pura acepção.
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