A primeira vez que vi um combate
muitos anos atrás,
num triste dia de setembro
o ar rescendia pólvora
e morte grassava impiedosa
cerrando olhos que faiscavam.
Um insurgente olhava atento
para as fachadas dos edifícios
carregava a kalashnikov
a procura do inimigo.
A memória vezes me falha
sobre aquele dia de setembro
quase consigo ver flores
nos escombros das casas antigas
que um dia foram lares felizes
e alcovas que acolhiam enamorados;
Movimento nas trincheiras
acompanhados dos disparos
contra adversário invisível
protegido pelo aço insensível
do carro de combate que demolia
as portas de ferro que sacudiam
Alguém estava chorando
rompendo o silencio mórbido
mas as balas não acreditam em lágrimas
nem a palavra lhes importa
Difícil progredir cinquenta metros
até a praça cheia de cadáveres
enfeitando um chafariz
que um dia acolheu crianças
Sentia sede e aplacava a fome
com côdeas de pão amanhecido
e nacos de carne em conserva
atrás das paredes esburacadas
salpicando os lábios com sangue
vendo a distancia uma ponte
como objetivo militar longe demais.
Quando anoitecia o céu acendia estrelas
quais velas para orientar as almas
que procuravam a eternidade
mas o combate não cessava
as palavras não importavam,
as razões não convenciam.
Foi um ano difícil aquele do setembro
quando pela primeira vez vi um cadáver de olhos baços
vergonhosamente orgulhoso
de ter puxado o gatilho.
Pela primeira vez em combate
vi um insurgente morrer
sem querer chorar de ressentimento
satisfazendo os desejos da alma sanguinária.
Mas, como desde os tempos antigos, não esquecidos,
as balas não acreditam em lágrimas.