Tenho saudades,
saudades de um tempo recente,
tão recente que ainda consigo tocar
com as pontas dos meus dedos
nos braços que se faziam abraços
e ainda sinto o perfume dos sorrisos
nas tardes de sons poéticos
e nas noites de suspiros de poesia…
Tenho saudades de coisas tão simples
como as conversas banais das tertúlias,
onde descontraídos, dizíamos não sermos poetas
e nem sabíamos dizer os poemas,
mas sabíamos…isso sabíamos
que a amizade estava presente
em cada falha na palavra dita erradamente
por que no final todos ríamos
e ríamos sem hipocrisia
muito menos com cinismo,
pois o mais importante era o convívio
sem preconceitos, nem complexos…
Tenho saudades
da brisa que nos afagava o ego de poeta,
saudades de um tempo que certamente não volta
por que foi levado para longe
fustigado por vendavais intempestivos
vindos da obscuridade
esmorecendo a solidária luz
daquelas outras noites enluaradas…
…Quero acreditar que esses ventos conflituantes
sejam passageiros…
Tenho saudades
dos momentos alegres, dos sorrisos
e dos abraços…
Tenho saudades daquele tempo recente,
tão recente que tenho a certeza de que voltará,
por que se não voltar,
se não voltar…
Eu desistirei de ter saudades!
José Carlos Moutinho