(diz-me a poesia:)
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sabes o que te espera, no fundo dos sinónimos: um não-saber se és o que não és, ou se dizes o que não dizes. a tua mão é pouca para o delírio dos dedos – rio, indulgente – a tua mão, julgando-se um livro, é pouca para a significação das teclas, e tudo o que escreves é a literal tradução dos outros, iludindo-se na reinvenção de ti própria. que farias tu, se o sujeito que trazes dentro não precisasse dos verbos que o animam? erguer-te-ias sem complementos e acessórios? ah, o doer não é desculpa para a poesia, sabes, só o doer não é, há mais que dor nisso. há o prazer de ficar na dor, há a insaciabilidade dos significados, há o desdém pelos significantes. esquece os sinónimos e a queda livre: as palavras servem para dizer, mesmo quando o dizer não serve as palavras. e não me ouças, que eu já enlouqueci todas as palavras a quem disse que tu és minha.
Teresa Teixeira