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LÁGRIMAS MALDITAS

 
NOTAS BIOGRÁFICAS

Feliz daquele que no livro d’alma,
Não tem folhas escritas,
Nem saudade amarga, arrependida,
E nem lágrimas malditas."
(Álvares de Azevedo)

Ele as tinha. Aos quatro anos de idade, teve seu primeiro encontro com a morte, e vieram as lágrimas malditas: falecia seu irmãozinho, Manuel Inácio. Fatalidades, assim, deixam marcas profundas em qualquer um; imaginem em um garoto sensível. Afirmam muitos biógrafos, que a febre, de que é tomado entre os cinco e seis anos, que quase o mata e deixa sua saúde comprometida pelo resto da vida, está relacionada ao choque com a morte do irmão. Eu, de mim, lhes digo que não acho inverossímil tal fato, pois, já li artigos de casos semelhantes.

Saudades amargas lhe trouxeram duas outras mortes, nos seus últimos anos de vida. Em setembro de 1850, Feliciano Coelho Duarte comete o suicídio. E, exatamente, um ano depois, em setembro de 1851, morre, João Batista da Silva Pereira Júnior. Ambos os amigos eram próximos do poeta. No discurso fúnebre deste último, Álvares de Azevedo diz:
"Cada ano uma vítima se perde nas ondas, e a sorte escolhe sorrindo os melhores dentre nós".

E na parede de seu quarto de pensão, escreve:
1850 - Feliciano Coelho Duarte
1851 - João Batista da Silva Pereira
1852 - ...

Saudades amargas e arrependidas lhe trouxeram o período em que se transferiu do Rio de Janeiro para a capital paulista, a fim de ingressar na Academia de Ciências Jurídicas de São Paulo, para fazer o curso de Direito. Saudades de casa, dos amigos, dos lugares.

Em São Paulo, Manuel Antônio Álvares de Azevedo, Maneco, para os mais próximos, adoeceu de tuberculose pulmonar e, ao concluir o quarto ano de seu curso de Direito, vai passar as férias no Rio de Janeiro para amenizar os sintomas da tuberculose que o afligia. Feliz pelo retorno a cidade onde sempre vivera, resolve passear a cavalo pelas ruas do Rio, mas sofre uma queda; que acaba por atingir um tumor na fossa ilíaca, provavelmente uma apendicite supurada, que piorou depois da queda. Padecendo de dores terríveis, é operado, sem anestesia, conforme atestam seus familiares. Foram 45 dias de padecimento, até que na tarde do dia 25 de abril de 1852, um domingo de Páscoa, na casa de seu pai Dr. Inácio Manuel Álvares de Azevedo, no Rio de Janeiro, Maneco pressentiu a presença da morte. A morte que tanto cantara em seus versos de adolescente, apaixonado pelos delírios macabros de Byron e Musset. Pede a mãe, D. Maria Luísa, que mande celebrar uma missa em seu quarto.

Após se confessar ao padre arrumado às pressas, pediu à mãe, grávida de seu oitavo irmão, que se retirasse do quarto, pois precisava descansar. Por volta das 4 horas da tarde, com o auxílio do irmão Quinquim - quatro anos mais moço - ergueu-se um pouco do leito, beijou a mão de seu pai e, a custo, exclamou:
"Que fatalidade, meu pai!"
Tentou ainda dizer algumas palavras, mas a boca já se contraía e o corpo jazia imóvel nos braços do irmão.
"Maneco! Maneco!..." Gritavam Quinquim e o Dr. Inácio Manuel.
Do quarto ao lado, D. Maria Luísa, ouvindo e entendendo, soltou um grito desesperado e desfaleceu.(ORGANON. Revista do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Qu’esperanças, meu Deus! E o mundo agora
Se inunda em tanto sol no céu da tarde!
Acorda, coração!...Mas no meu peito
lábio da morte murmurou – É tarde.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poeirento caminheiro.
As torrentes da morte vêm sombrias.

E Manuel Antônio Álvares de Azevedo deixou a vida às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo de Páscoa, sem ver reunido em um livro a sua obra poética, Lira dos Vinte Anos, que preparara para a publicação.

É enterrado no dia seguinte. No enterro discursou Joaquim Manuel de Macedo (médico, professor e autor do romance “A Moreninha) que leu a poesia Se Eu Morresse Amanhã, que Álvares de Azevedo, como quem anunciasse a própria morte, escreveu um mês antes de morrer. Hoje está sepultado no Cemitério São João Batista, jazigo 12A, no Rio de Janeiro.

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz e escrevam nela:
- Foi poeta, sonhou e amou na vida.

Álvares de Azevedo deixou-nos uma obra que vale a pena a leitura, pois foi o escritor mais bem dotado de sua geração. Uma obra escrita em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário.

Ele é o patrono da cadeira número 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.

Pálida sombra dos amores santos
Passa quando eu morrer no meu jazigo;
Ajoelha-te ao luar e canta um pouco,
E lá na morte eu sonharei contigo.
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Bibliografia:
BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 3ªed., São Paulo, Cultrix.
BANDEIRA, Manuel – Seleta de Prosa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997.
Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
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