UMA MANHÃ EXCEPCIONAL que comecei as seis e quinze da manhã quando despertei de um sonho pra lá surrealista, cenas sem nexos que acabou quando eu fumava diamba com uns senhores no que parecia com a Vacaria. Depois das formalidades habituais, cair no campo a caminho da Ferronorte a pé descendo pela Avenida do Jambeiro e pela Portugueses - na barragem, na comporta parei para acompanhar um pescador que tarrafeara e tinha pego quatro peixinhos bem miúdos, deixou-os na calçada e um gordo gato preto com as pontas das patas branco os comeu tranquilamente. Na segunda mais peixinhos que saltitavam e o parceiro dele um senhor com uma sacola ajuntava-os. "Esse é o melhor peixe daqui da barragem" - perguntei-lhe o nome "Escrivão" respondeu sem olhar. Continuei a minha caminhada, o movimento intenso nas pistas. Na margem em frente ao bairro da madre Deus - 'La Maison des Chats" - os bichanos estavam espalhados na calçada, deitados pegando um sol e outros comendo em bando as rações. Agora há dois abrigos toscos feitos de madeira para abriga-los abaixo, uma de dois andares com uma rampa.
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PRIMEIRO SABADO DE NOVEMBRO, Dedé, o betoneira amanhecera ressacado e louco para entornar mais uma dose para equilibrar os nervos, a semana toda no álcool puro. Assim que eu estava, emendava os dias, não queria saber de nada somente me embriagar com os parceiros da praça. Depois que comprei os ferros ontem pela manhã no bairro da Areinha - sobrou quarenta reais de troco. Rumei ao centro, o pensamento era um só, comprar um livro, voltar a vida depois de quase seis meses sem ter esse prazer. Atravessei o bairro da Madre Deus, os operários metalúrgicos trabalhavam no telhado de estrutura metálica na sede do Boi Barrica, segui pela Rua São Pantaleão, dobrei no Largo Santiago, Rua Cândido Ribeiro, o novo hipermercado Mateus na antiga dependências da Fabrica dos Martins na subida da Avenida Cajazeira, a rua que não sei o nome onde morava o Seu Lobato, que era proprietário de uma serraria na mesma rua onde morávamos. Na calçada do velho e abandonado, o imponente prédio do antigo Sioge, o velho mecânico James eterno candidato consertava um carro. O posto de gasolina, a casa lotérica cheia, a lanchonete, os motoristas de táxi conversando, os bares da calçada baixa, onde duas mulheres bebiam uma cerveja e na outra ao lado um senhor solitário. As mercadorias expostas e a arrumadas, a pequena escadaria que da acesso a um dos portões do Mercado Grande Deu-me vontade entrar para visitar e rever velhos conhecidos no bar do Lelis. A Loja Caça & Pesca e no outro lado antiga fabrica de macarrão Minerva na entrada da Rua Sete de Setembro - a Rua Regente Bráulio com suas lojas de produtos de umbandas, os incensos acesos para atrair os clientes, as estátuas dos orixás, o chifre de boi e tc. O Camelódromo, a parada das vans. O doido do Bayegon, esfarrapado de cabelos desgrenhados, camisa suja de sangue, puxando de uma perna perambulava resmungando entre as bancas não montadas. A Avenida Magalhães de Almeida, no meio da ladeira quase na esquina com a Rua l4 de julho, entrei no ponto de jogo de bicho, onde uma vez encontrei e comprei "Cristiane F" e um Balzac - não encontrei nada de interessante na gôndola recheada de livros de bolsos românticos. Na Casa Lotérica no canto da Rua Afonso Pena com o Beco da Pacotilha poucos apostadores, aproveitei para fazer a minha fezinha semanal, desci pelo Beco, o restaurante, a lembrança dos almoços degustando língua de boi em companhia de madame Rameaux e depois com Maday. A ladeira da Rua Vinte e oito de Julho, a fachada da Aliança Francesa e finalmente a rua do Sebo Poeme-se, onde o proprietário Seu Riba, um moreno conhecido de longas datas e o ajudante desligavam o alarme. Aguardei alguns minutos e entrei no sagrado templo. Quanto tempo afastado. Uma emoção tomou conta de mim, comecei pela prateleira de cinco reais ao lado da porta de entrada, caminhei a outra seção onde uma coleção de capa dura de clássicos chamou-me atenção, entusiasmei -Dickens, Balzac, um volume de novelas russas com Tolstoi e outros. Separei dois e um Graham Green. Instintivamente perguntei seu Riba se tinha algum Dostoievski. Ele levantou-se imediato da cadeira e fomos até o balcão perto da porta e do caixa. "Chegaram ontem" - colocou os livros sobre o balcão - extasiei-me de alegria aos vê-los - "O Duplo", "Recordações da Casa dos Mortos", "Nota do Subsolo", "Ninotchka" e o "Idiota". Procurei timidamente os preços "Quinze reais, qualquer um" - respondeu-me. Meus olhos brilhavam de contentamento. Com havia separado os três, mas Dostoievski falou mais alto e escolhi o "Idiota" - "Tu gosta muito dele" - comentou, recebendo o dinheiro. A minha missão obtivera êxito, ganhei o dia. Segui contente para o Anel Viário, apanhei um lotação, desci em frente a Unidade Mista. No laboratório entreguei a mostra para o exame de escarro. Recebi a cartela de comprimidos com a enfermeira Dalva, amorena afável. No calçada onde fica sempre estacionado o caminhão da biblioteca itinerante conversei com a vendedora de merenda e nada, entrei no colégio e ninguém soube me informar. Para encerrar contratei Seu Lacerda para buscarmos os ferros no Deposito. E as uma da tarde retornei ao lar doce lar depois de deixa-los na oficina. Visitei o escritório do meu amigo, o agente de navegação José Lopes da Silva no Travessa da Lapa, ficou feliz ao ver-me, ofereceu-me café, também encostei na oficina de Karripilha oi Tio Karl, velho amigo e parceiro, trabalhamos muito tempo juntos quando a minha oficina era no Portinho onde fumamos muita diamba. Pedi-lhe dois reais, deu-me dez reais. Sempre quebra o meu galho. Agora de manhã o vizinho do lado, o barbeiro Costa raspou a areia da sarjeta em frente e jogou no beco.
Na praça do Bacurizeiro, um locutor anunciava a venda de roupas usadas, um brechó beneficente promovido pelos irmãos da Igreja Batista Manancial do pastor Cícero Jorge, irmão do meu querido Jacob, compadre, padrinho do meu filho, falecido vitima de câncer há varios anos. Debaixo da Barricudeira, Bica um moreno baixo de braços fortes, capoeirista das antigas, matador brincava com Riba Fodinha que envergava uma surrada camisa do Grêmio. Cantor de cara vermelha observava Ademir sem camisa escalar uns peixes para assar, K.Suco acendia uma fogueira próximo ao muro do mercado, vendera duas garrafas secas para inteirar outra cheia. Depois de ouvir os mesmos assuntos de sempre, despede-me deles, resolvi passar na lojinha do meu amigo cabeludo ou Monserrat estava azafamado atendendo um casal, depois de mostrar todas as bermudas, o rapaz simplesmente disse que não tinha dinheiro, meu amigo chateado, após ver todas as mercadorias espalhadas no chão "Eta casalzinho" - murmurou irritado. Brinco com as pequenas princesas . tento ensinar-lhes italiano. A primeira vez que tentei ler "O idiota" não conseguiu assim como "Os Irmãos Karamazovi", eu era muito obtuso e não compreendia bem o mestre. Tinha 16 anos e começava a ter gosto pela literatura, principalmente pela poesia e garatujava uns poemas idiotas e despretensiosos. Quem me emprestou foi o poeta João Ribeiro, colega do meu irmão Eusébio e morava num mirante no casarão dos Carvalhos.Depois de inúmeras tentativas, sem nada entender, devolvi-lhe. Foi ele que também que contou-me sobre "Crime e Castigo", do estudante que matou machadadas a velhinha usuraria. Com Dickens foi diferente, consegui-lo ler as quinhentas paginas de "As Aventuras de Sr. Picwick" em três anos, depois anos mais tarde adquiri "David Copperfield", "Oliver Twist", "Grandes Esperanças" que nutro um sonho de um dia compra-los novamente. Um clássico do cinema dos anos 70 - Midnight cowboy com Dustin Hoffmam no papel de Ratso e John Voigt, o cowboy que quer ser miché em Nova York.