Eu sempre fui uma rapariga bem-comportada,
nunca tive vocação para uma alegria desmedida,
para paixões loucas regadas com beijos quentes
ou para amores vividos em plenitude e serenos.
Eu sempre quis da vida o que ela tem de bonito,
Eu sempre quis que gostassem de mim, por mim,
Eu sempre fui menos de seduzir do que ser seduzida,
Sempre fui dada a paixões intensas em sentido único,
A pessoas que não mereciam o que eu tinha de melhor,
A pessoas que na verdade não me amavam de coração,
Sempre fui dada a casos improváveis e mal resolvidos,
A pessoas complicadas e com bagagem pesada atrás,
A pessoas que não me faziam sentir bem nem completa…
A certa altura deixei apenas de tentar… na verdade desisti…
Desisti de acreditar que merecia ser feliz e viver a vida,
De acreditar que merecia sentir o calor de uma paixão,
De acreditar que merecia alguém que me arrepiasse
Com um simples toque, com uma simples palavra no ouvido…
Desisti de acreditar que era digna de esperar um amor,
Que era digna de que alguém invadisse o meu espaço,
Que era digna de me sentir desejada… de me sentir mulher…
Desisti durante muito tempo… fechei todas as portas,
Ergui todas as barreiras, entabuei todas as janelas da alma,
Remeti-me a uma clausura voluntária dentro de mim…
E um dia… um dia acordei e questionei-me…
Questionei todas as minhas verdades instituídas,
Todas as minhas convicções, todas as minhas regras,
Questionei todas as minhas razões, todas as motivações,
Todas as minhas opções… toda a minha vida na verdade…
E um dia… de todas essas dúvidas e questões,
De toda essa vontade intempestiva de viver a vida,
De toda essa vontade de arriscar sentir, ousar e querer,
De toda essa sede insana de mudança…apareceste tu…
E a minha vida passou de um filme a preto e a branco
A uma projecção cheia de luz, de desejo, de querer e de cor!
HP/