Contos : 

UM ANJO BATEU NA MINHA PORTA

 
<br />Foi isto mesmo que aconteceu. Bateram na porta e quando abri vi na minha frente um anjo. Na hora pensei que fosse uma brincadeira inocente de alguém. Lembrei que o mês era Outubro, e logo associei com o dia das bruxas. Mas imediatamente percebi que estava no meio do mês ainda e, portanto não era o dia Delas. Olhei a figura alada parada na minha porta. Vestia uma dessas roupas compridas, tipo um camisolão de dormir e o que me chamou a atenção foi o fato de que ele parecia flutuar bem ali na minha frente. Óbvio que ele ou ela, poderia estar em cima de algum artefato que produzia aquele movimento de sobe e desce como se estivesse solto no espaço. Quando disse ele ou ela, referindo ao anjo, é porque a feição do seu rosto era andrógena. Ele reunia em si as características dos dois sexos. Ele era uma figura esplêndida de ser ver. Emanava dele uma luz que transcendia sua essência corpórea. Eu mesmo não tinha certeza se ele possuía um corpo de verdade. Digo isto porque eu conseguia ver através dele, ele era translúcido, quase etéreo. Desde o instante em que abri a porta, ate mesmo antes, senti uma calma indescritível, e sem saber o porque, de repente comecei a chorar sem motivo aparente. Eu não sabia o que estava acontecendo ate deparar com o anjo na minha frente. Agora sentia vertigen e meu coração pulsava descompassadamente. Num instante toda a minha vida começou a passar diante de meus olhos, eu sabia que aquilo que estava acontecendo comigo era um tipo de estágio que antecedia a chegada da morte. Eu tinha a sensação de que estava morrendo, e mesmo assim, não sentia medo algum. Então comecei a desconfiar de que realmente um anjo havia batido na minha porta, e independe da minha crença, sabia que estava diante de um mensageiro celestial de Deus. Não havia mais dúvidas; era um anjo de verdade. Não sei de onde surgiu aquela luz fulgurante ao lado do anjo, sei apenas que senti vontade de me aproximar dela, ultrapassar seus limites, ir ate o outro lado e encontrar Deus face a face. A sensação era inebriante, fascinante, estava a um passo de fazer a transição entre mundos, quando de repente a porta se fechou sozinha. Como se tivesse saído de um transe hipnótico, cai no chão totalmente sem forças. Não sei quanto tempo permaneci olhando para aporta fechada. Queria levantar, mas não conseguia, queria movimentar o corpo, abrir novamente a porta e encontrar o anjo do outro lado. Com muito esforço fui erguendo o corpo dolorido e alcancei a maçaneta. Abri a porta e para minha surpresa, o anjo não estava mais lá. Esperei alguns segundos e fechei a porta antes que ele resolvesse voltar. Não que eu tivesse medo ou algo parecido, é que este negócio de anjos e lá no céu com Deus, quando chegar a minha hora, sei que este mesmo anjo ira voltar, e desta vez a porta estará bem aberta. Amem.

 
Autor
Adão Jorge dos santo
 
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